Título: Congresso: arena dos valentões
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 06/11/2005, País, p. A2

A tradicional troca de farpas entre parlamentares - comum da vida política - transformou-se em troca de ameaças, insultos e até agressões físicas desde que as denúncias de corrupção esquentaram o clima no Congresso. Reflexo da antecipação da disputa eleitoral de 2006, os políticos envolvidos nos bate-bocas poderão ser penalizados no próximo ano pelos eleitores mais atentos. Nas CPIs, as imagens de parlamentares se digladiando são comuns. A oposição acusa sem provas qualquer aliado do governo de corrupção. E recebem insultos e gritos como resposta. Na última semana, o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, principal adversário do PT na disputa eleitoral de 2006, ameaçou dar uma surra no presidente Lula, e serviu de mau exemplo para o recém-chegado deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). O deputado do PFL repetiu a ameaça ao levantar a suspeita de que estaria sendo grampeado.

- A temperatura está subindo e se os políticos não começarem a se controlar, as eleições no próximo ano serão uma guerra. Os parlamentares devem estar atentos porque o eleitor repara neste tipo de comportamento. Ninguém gosta desse modelo de João Valentão - alerta a cientista política Lúcia Hipólito.

O senador Arthur Virgílio admite que querer dar uma surra em um presidente da República pode ser exagero, mas ressalta que mantém a ameaça. Ele alega que sua família está sendo ameaçada por integrantes do governo e que o Ministério da Justiça não apurou o fato.

- Estou sendo muito criticado. Sei que tenho que moderar a minha língua, mas não retiro a ameaça. Quem quiser fazer mal a meus filhos vai apanhar mesmo - afirmou Virgílio ao JB.

Lúcia Hipólio não poupa críticas à postura do senador e aproveita para lembrar que o presidente Lula também tem que controlar a língua afiada.

- Isto é um absurdo. O senador esqueceu que é líder do principal partido de oposição. Por outro lado, o Lula também tem que aprender a se controlar - aponta a cientista política.

Conhecido por sua calma, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) diz entender que Virgílio estava nervoso diante da ameaça, mas lembra que além das intimidações, o linguajar usado no Congresso deve ser apropriado.

- Eu já fui agredido por Antonio Carlos Magalhães e respondi de maneira elegante. Tanto que ele ficou sem resposta - comenta Simon, sobre episódio ocorrido em 1997.

Lúcia Hipólito lembra que os confrontos são cada vez mais freqüentes, mesmo fora das CPIs, por conta do nervosismo gerado pela crise política. Um exemplo foi a troca de ofensas, que quase acabou em agressão física entre os deputados Inocêncio Oliveira (PL-PE) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), na votação da ''MP do Bem''.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM), um dos mais antigos na Casa, critica a atitude dos colegas e destaca que aqueles com os ânimos mais exaltados deveriam ser punidos com advertências do Conselho de Ética e até suspensão de mandato por um período.

- Os deputados e senadores devem entender que fazem arte de uma instituição. Não podem manchar a imagem do Congresso dessa forma. A população já está descrente com a política. Não podemos colocar mais lenha nessa fogueira - diz Peres.

O senador lembra que, no passado, parlamentares já levaram advertências pelo comportamento agressivo. Ele cita o caso do senador Antônio Carlos Magalhães e ex-senador Jader Barbalho, que trocaram acusações de corrupção em plenário do Senado, em 2001, na época da disputa pela presidência do Congresso. Ambos foram advertidos pelo Conselho de Ética.

Desta vez, porém, nenhum tipo de punição está prevista para mau comportamento. Desde a instalação das CPIs, nem a Corregedoria da Câmara nem a do Senado receberam queixa das agressividades. O processo de queixa contra o comportamento dos parlamentares deve ser aberto na Corregedoria, para então ser encaminhado ao Conselho de Ética.

Na opinião do deputado Chico Alencar (P-SOL-RJ) é um sinal de falta de conteúdo político. Ele é correligionário da senadora Heloísa Helena, freqüentemente envolvida nos embates das CPIs.

-Essas brigas demonstram a mediocridade política em que estamos jogados. Surra pra cá e grampo pra lá é um sinal de que falta conteúdo.