Título: Entre o pacifismo e a revolta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/11/2005, Internacional, p. A13
Ontem pela manhã, mais de mil pessoas participaram de um protesto pacífico em um dos subúrbios mais atingidos pelos confrontos violentos com a polícia, Aulnay-sous-Bois. Autoridades e moradores locais empunhavam bandeiras francesas e cartazes contra a violência.
Os manifestantes não bradaram palavras de ordem. Apenas marcharam em silêncio por entre os veículos e propriedades queimadas durante os ataques das últimas semanas. Cruzaram um depósito de tapetes e pisos incendiado, em uma área industrial isolada arrasada pelos desordeiros. Um cartaz branco trazia a frase: ''Não à violência''.
Do outro lado do front, os manifestantes incendiários usam o mundo virtual para divulgar suas palavras de ordem. Segundo o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, e autoridades policiais, os jovens envolvidos nos confrontos estão utilizando blogs da internet para arrebanhar adeptos. Durante as ações, eles se comunicam por telefone celular, circulam pelas ruas de motocicleta e trocam informações sobre cada passo da polícia.
De acordo com reportagem da agência de notícias Deutsche Presse, nas páginas dos sites pessoais, os jovens se gabam do vandalismo. O principal alvo dos protestos virtuais é o ministro do Interior. ''Agora nós é que estamos perseguindo você com mangueiras'', escreve um dos blogueiros, numa referência à uma declaração de Sarkosky, que falou em uma entrevista sobre a necessidade de lavar Paris da ''escória''.
- Toda noite, transformamos esse lugar numa Bagdá - diz um jovem mascarado em Sevran, nos arredores de Paris, citado na reportagem.
O grau de organização e estrutura dos grupos responsáveis pelos ataques, que utilizam técnicas semelhantes às das guerrilhas, desperta a desconfiança dos moradores das regiões atingidas. Um assistente social de Aulnay-sous-Bois acusa os manifestantes de ligação com o tráfico porque eles ''dirigem carros caros e usam telefones celulares que eu não poderia comprar''.
- Não acredito que essas pessoas tenham um quartel-general, mas eles parecem estar organizando suas ações por telefone - disse.