Título: Não à ignorância e sim à democracia
Autor: Antonio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 06/11/2005, Opiniao, p. A15

O Brasil do regime autoritário realizou muitas obras, mas falhou na educação

Ainda bem que a proporção de brasileiros que gosta do regime autoritário é de apenas 15%. Esse é o dado da última pesquisa realizada pelo Instituto Latinobarómetro, do Chile, e publicada na revista Economist (29/10/2005).

O Brasil do regime autoritário realizou muitas obras, mas falhou, imperdoavelmente, na melhoria da educação e na formação de lideranças jovens. Perdemos um tempo precioso. Nossa força de trabalho tem apenas cinco anos de estudo. As escolas de todos os níveis, com raras exceções, são muito precárias. O analfabetismo funcional chega a 60%. Isso é um grande obstáculo para o nosso crescimento e progresso social, inclusive na área política.

Embora os fãs do autoritarismo não passem de 15%, os fãs da democracia estão diminuindo. Isso é triste. Em 1996, 50% dos brasileiros consideravam a democracia como o melhor regime, o que já era pouco. Hoje, são apenas 37%. Houve uma queda de 13 pontos percentuais. Cerca de um quarto da população brasileira se desencantou com a democracia.

Argumenta-se que o crescimento econômico desse período gerou benefícios muito reduzidos em matéria de educação, saúde, segurança e previdência. Mas, é preciso lembrar que, nos últimos dez anos, o Brasil cresceu cerca de 2% ao ano, em média. Isso é muito pouco para se pensar na melhoria da vida humana. No ano passado crescemos quase 5%; este ano cresceremos 3,5% ou um pouco mais. Ainda assim é insuficiente para atender às nossas necessidades.

Nos 18 países pesquisados pelo Instituto Latinobarómetro, a falta de empregos aparece como o mais grave problema e a maior fonte de frustração com o regime democrático. Em seguida, vêm os baixos salários e a falta de segurança das pessoas.

A democracia é um dos mais valiosos ativos da sociedade moderna. Não podemos perdê-lo, pois, se a situação é difícil no regime democrático, muito pior fora dele.

Mas, para consolidar a democracia, não basta a crença nesse regime. É preciso que as nações apresentem resultados concretos aos seus povos. O crescimento econômico é um deles. A distribuição da renda é outro. Mas, mais importante do que todos eles, é a melhoria da educação. A ignorância constitui o maior perigo para a democracia e para o próprio crescimento econômico. Há muitas nações do mundo que são pobres em recursos naturais, mas, pelo fato de terem um bom ensino, prosperaram. Basta lembrar o Japão, Israel, Coréia do Sul e outros. Inversamente, muitas nações que têm recursos naturais abundantes não conseguiram avançar devido à precariedade de seus recursos humanos. O Brasil é um caso eloqüente.

O presidente George W. Bush, em entrevista recente ao Estado de S. Paulo (02/11/2005), disse que deseja fazer uma estreita parceria com o presidente Lula para fortalecer a democracia na América Latina. Foi uma declaração importante. Teremos de esperar as ações. A democracia não brota da vontade dos governantes, mas é construída pelos povos, quando bem dirigidos pelos líderes nacionais. Temos de agir rapidamente e enquanto os simpatizantes do autoritarismo são apenas 15%.

Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos.