Título: Nem dólar baixo, nem aftosa
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 06/11/2005, Economia & Negócios, p. A22

Greve da Receita puxou queda no comércio exterior em outubro, sustenta AEB

A greve dos servidores da Receita Federal já provoca mais do que aborrecimentos a contribuintes. A paralisação foi a principal responsável pela queda de 18,6% na média diária de exportações e de 22,9% na de importações, verificadas entre a primeira e a última semana de outubro, sustenta a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Para a entidade, a queda é conseqüência da chamada ''operação padrão'' - em que a fiscalização se torna extremamente rigorosa e, portanto, mais lenta - em andamento em portos e aeroportos. Assim, a liberação de produtos para exportação e importação leva mais tempo do que o normal. A Unafisco Sindical, que agrega os 8 mil auditores da Receita, informou que a aduana é o principal alvo da paralisação, iniciada em 8 de setembro.

Pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária de exportações caiu de US$ 565,2 milhões para US$ 460 milhões, entre os primeiros e os últimos dias de outubro. As importações, por sua vez, recuaram de US$ 350,2 milhões para US$ 270 milhões.

- Se o problema fosse o câmbio, só as exportações teriam caído. E a aftosa não teve um impacto tão forte assim - explica José Augusto Castro, vice-presidente da AEB.

Os auditores da Receita estão paralisados, segundo a Unafisco, em protesto à Medida Provisória 258, que cria a Super-Receita. Os servidores são contrários à integração dos fiscais previdenciários ao corpo de auditores fiscais. Além disso, dizem, ''a MP foi criada sem um prévio debate com a sociedade''.

Para Castro, da AEB, porém, os prejuízos para o comércio exterior irão além do que os números evidenciam.

- O atraso na liberação de mercadorias pode implicar a perda de confiança do importador estrangeiro em relação ao exportador brasileiro pelo não cumprimento dos prazos.