Título: Palocci nunca esteve tão frágil
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, País, p. A2
Em rota de colisão com a Casa Civil, ministro da Fazenda ameaça deixar o cargo
BRASÍLIA - A posição do ministro Antonio Palocci Filho nunca esteve tão frágil quanto agora. Sua blindagem teria acabado, diante de novas evidências de corrupção na cidade de Ribeirão Preto, seu berço político. No Parlamento, esperam-se ainda mais denúncias que envolvem sua gestão à frente da prefeitura. O quadro é visto nos meios empresarial e político como o real motivo da suposta intenção de apresentar pedido de demissão a Luiz Inácio Lula da Silva.
Há versões em Brasília de que Palocci teria jogado a toalha por causa da disputa com Dilma Rousseff, da Casa Civil. Esta seria uma explicação política mais convincente para a queda. De fato, a ministra pesou a mão ao classificar como ''rudimentar'' o plano de ajuste fiscal de longo prazo que a equipe econômica discute levar ao Congresso.
Nas entrelinhas da entrevista publicada anteontem no jornal 'O Estado de S. Paulo', líderes da base do governo e da oposição vêem o dedo do próprio Lula. Ele teria se inclinado a promover os investimentos em infra-estrutura defendidos por Dilma, que estão represados por Palocci e um superávit primário de mais de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). O movimento da ministra é muito brusco para ela não ter combinado com o seu ''russo'', o chefe do Executivo.
Em ação coordenada, Dilma buscou apoio político no Senado. Anteontem à noite, reuniu-se com a bancada do PMDB, junto com vários petistas, na casa do senador Ney Suassuna. Segundo convidados, como sobremesa, a ministra disse que o governo se compromete a liberar R$ 6,5 bilhões para serem gastos em energia, transportes e comunicações ano que vem. Dilma avisou ainda, segundo parlamentares presentes ao encontro, que as obras de transposição do São Francisco começam este ano.
Ontem, a vida de Palocci piorou ainda mais pela voz do presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Além de prorrogar a CPI dos Correios, o parlamentar disse ser inexorável a ida do ministro ao Congresso para explicar as denúncias de corrupção.
-Não podem pairar dúvidas sobre o ministro da Fazenda - avisou.
Enquanto isso, a oposição faz carga pesada para que Palocci vá depor na CPI dos Bingos, onde a base do governo é minoria. O ministro prefere ir à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde tem audiência marcada para o dia 22.
O titular da Fazenda também foi convocado por uma comissão especial da Câmara, a qual estuda a emenda à Constituição constitucional Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). O pressuposto é de que tenha de debater educação, mas não terá como fugir dos questionamentos sobre corrupção. Se não comparecer, ele pode ser processado por crime de responsabilidade.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), apressou-se a dizer que Palocci está à disposição para esclarecer tudo. Mas, na Câmara são setores do próprio PT que aproveitam para jogar lenha na fogueira e defendem a saída de Palocci.
Em meio ao tiroteio, o presidente Lula cancelou uma viagem ao Espírito Santo e à Bahia. Chamou à Granja do Torto os ministros Palocci, Márcio Thomaz Bastos (Justiça), o senador Mercadante e o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Pediu serenidade, calma e que a Fazenda se entenda com a Casa Civil.