Título: A bebedeira como desculpa
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - Pela primeira vez, desde que começaram a funcionar as recentes CPIs que apuram denúncias contra o governo, um depoente alega que estava bêbado para tentar desmentir declarações prestadas a um jornalista. Além da confissão, o economista e ex-assessor de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, Vladimir Poleto, disse que o jornalista Policarpo Júnior mentiu em todas as denúncias publicadas na revista Veja sobre um suposto esquema de remessa de dinheiro de Cuba para campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

- Eu falei para ele (Policarpo) que todas as informações eram inverídicas. Ele disse: 'Vladimir, a matéria está pronta e vai sair. Você já está no olho do furacão',

Segundo ele, o jornalista da revista gravou a entrevista por dez m inutos durante um churrasco.

- Entre uma cachaça e outra, não me lembro do que eu , se disse alguma coisa que confirme o que a revista divulgou. Só o fiz porque estava bêbado - afirmou.

Poleto admite que passou muito tempo conversando com o repórter Policarpo Júnior.

- Sofri coação e constrangimento, que foi fruto do excesso de álcool.

Poleto afirma que estava bebendo cachaça e chope desde 17h do dia 21 de outubro, data em que foi abordado pelo repórter.

O encontro ocorreu às 22h em um hotel de Ribeirão Preto.

De acordo com Poleto, tanto ele quanto Policarpo continuaram a beber durante a entrevista.

O economista disse na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos que levou três caixas de bebida de Brasília para Campinas em um avião Sêneca, conforme a revista afirmou. Segundo o ex-assessor de Antonio Palocci, a entrega ocorreu a pedido de ex-secretário de Fazenda da Prefeitura de Ribeirão Preto, Ralf Barquete (morto no ano passado), na primeira gestão de Palocci, de 1993 a 1996.

- Fui a um apartamento em Brasília a pedido do Ralf. E levei três caixas de bebida hermeticamente fechadas para Campinas. Em duas das caixas estava escrito Black Label e em outra, Red Label - contou Poleto, referindo-se a marcas de uísque.

Em depoimento à CPI, pouco antes, o advogado Rogério Buratti confirmou a declaração que deu à revista. Ele disse ter ouvido do ex-secretário de Fazenda da Prefeitura de Ribeirão Preto, Ralf Barquete, que o governo cubano enviou dinheiro ao Brasil.

Buratti disse ter ''certeza'' de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sabia que empresários ligados a casas de bingos doaram R$ 1 milhão para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Buratti voltou a falar sobre a doação dos bingos à campanha de Lula.

- O dinheiro dos bingos, o Palocci sabia. O José Dirceu, eu não sei. Devia saber. O presidente Lula, pelo montante, deveria saber também - declarou Buratti, que foi assessor de Palocci em sua primeira gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto.

Na última segunda-feira, a comissão apurou a informação de que o empresário Roberto Carlos Kurzweil seria o responsável pela captação de parte dos recursos da campanha Lula em 2002, em nome de Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto.

O empresário teria conseguido doação de R$ 1 milhão de dois empresários angolanos, donos de bingos em São Paulo. O acerto da doação teria ocorrido num jantar em Ribeirão Preto

Com agências