Título: Panos quentes na crise do PMDB
Autor: Juliana Rocha e Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, País, p. A7

Na tentativa de acalmar os ânimos do presidente da Alerj, Garotinho diz que o apóia como candidato ao Senado

Em uma reunião da Executiva do PMDB de uma hora e meia, o secretário de Governo Anthony Garotinho e o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, decidiram tomar atitude para por fim à crise interna no partido. O deputado, que quer ser candidato da legenda ao Senado, voltou a fazer críticas ao vice-governador e secretário de Meio Ambiente, Luiz Paulo Conde, que também disputa a vaga. Garotinho decidiu, então, apoiar publicamente Picciani e diminuir a ira do presidente da Alerj, que já se refletia na pauta da Casa, com 17 vetos da governadora Rosinha Garotinho ameaçados de derrubada esta semana. Picciani, por sua vez, garantiria as votações a favor do governo e trabalharia para sua candidatura no partido.

O deputado chamou o vice-governador de ¿inábil e ingênuo¿, segundo pessoas presentes ao encontro. Conde não participou da reunião, apesar de estar na sua agenda.

Picciani há sete sessões não presidia os trabalhos na Casa alegando cansaço. O afastamento foi entendido como uma estratégia para permitir que os deputados estaduais derrubassem os vetos do governo a projetos de lei. Ontem, um veto foi mantido e outro foi retirado de pauta por acordo de líderes. Antes da reunião, Garotinho lançou uma provocação:

¿ Picciani é um político muito correto. Não faria uma chantagem dessas (afastar-se do cargo) para atrasar as votações ¿ disse Garotinho. Garotinho pôs em prática sua decisão:

¿ Ninguém é candidato antes da hora. Já declarei meu apoio a Picciani, mas isso depende do partido e não só do meu voto.

Após a reunião, Garotinho foi enfático ao dizer ¿temos aqui o candidato a senador, Jorge Picciani¿. E pousou para fotos ao lado, também do candidato ao governo, Sérgio Cabral Filho garantindo que não havia crise nenhuma.

A estratégia deu certo. No fim do encontro, o próprio Picciani disse que os vetos da governadora seriam mantidos, antes mesmo da votação ¿ o que efetivamente foi feito. O deputado também anunciou seu retorno à cadeira de presidente da Assembléia na quarta-feira, após o feriado. Isso depois de ter feito carta pedindo a reunião e ameaçando pedir licença de 120 dias da Alerj. Para o ano que vem, entretanto, Picciani deixou claro que não quer se candidatar à reeleição.

Após as críticas de Picciani a Conde, Garotinho também teria se comprometido a conversar com o vice-governador para ¿sensibilizá-lo¿ e evitar que ele alimentasse crises internas. O interesse de Garotinho é não criar atritos com Picciani e manter a governabilidade da mulher Rosinha no governo. Mas ele precisa do apoio de Conde, que pode assumir o governo do estado, caso Rosinha precise se candidatar ao Senado ¿ na hipótese de Garotinho disputar a presidência ¿, com Picciani como suplente.

Conde rebateu as críticas.

¿ Não fui à reunião porque tinha fisioterapia para uma tendinite no joelho direito. Sou uma pessoa ética e não trato mal ninguém no partido. As pessoas fazem insulto com relação a mim. Não ataco ninguém em conversinha, como fui atacado. Eu estou em paz com todo mundo. As pessoas é que não estão em paz comigo ¿ disse Conde ao JB.

A vaga para o Senado, entretanto, está condicionada às prévias que o PMDB fará para decidir se terá candidatura própria à Presidência da República, dia 5 de março.

¿ Por enquanto, a situação é essa. Vamos primeiro definir o resultado das prévias para depois definir questões do estado ¿ disse Garotinho.

A avaliação de peemedebistas do Rio é de que Garotinho tem chances reais de ganhar a prévia e está trabalhando para isso. Seu único adversário seria o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Há também um grupo que pretende fazer aliança com o governo.

¿ O PMDB quer o ônus e o bônus do que é seu. Não pode ser obrigado a responder por uma política econômica que não é dele, nem a defender um governo corrupto que não é seu ¿ disse Garotinho, que tem feito peregrinações pelo país em busca de apoio.

Caso a previsão dos aliados de Garotinho se confirme, Rosinha completaria seu governo, enquanto ele iria para a campanha a presidente.

¿ Rosinha não quer ser candidata. Ela nunca manifestou esse desejo.