Título: Preço do gás opõe ministra e Petrobras
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

Estatal alega que combustível tem preço compatível com os custos e o câmbio, ao contrário do que sustentou chefe da Casa Civil

A chefe da Casa Civil e ex-titular da pasta de Minas e Energia, Dilma Rousseff, não está falando a mesma língua da Petrobras. Dois dias depois de a ministra afirmar que o gás natural é barato no Brasil, a estatal rebate e informa que o preço do combustível está compatível com os custos e o atual patamar do dólar. A Petrobras havia informado que passaria a reajustar a cada três meses os preços do gás natural a partir de janeiro. Assim, repassaria ao mercado interno a variação dos custos, prevista no contrato de importação do insumo da Bolívia, corrigido trimestralmente pelo país vizinho. Ontem, no entanto, o diretor da Área de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, revelou que estuda alternativa para não reajustar o preço. A empresa analisa proposta apresentada por uma distribuidora de gás, que prevê a adoção de um sistema que reduza a oscilação dos preços ao consumidor. Sauer não quis comentar as declarações da ministra sobre novos reajustes do gás natural, justificando que não teria tido conhecimento do teor das declarações.

Independentemente da adoção dos repasses trimestrais, Sauer também fez questão de afirmar que tal política de preços não implicará necessariamente em novo reajuste dos preços do insumo já em janeiro. Ele justificou que isso só ocorrerá se os preços do câmbio e da cesta de óleo variarem no período. Como exemplo, ele afirmou que, desde o reajuste do preço do gás importado da Bolívia, a apreciação do real frente ao dólar teria compensado o aumento do preço da cesta de óleos. Em agosto, a empresa anunciou aumento em duas etapas, tanto para o insumo brasileiro quanto para o importado do país vizinho. Em setembro, começou a vigorar o primeiro, de 6,5%. Este mês, foi aplicado o outro, de 5% em no início deste mês. Para o gás boliviano, o reajuste, também parcelado: de 13%, em setembro, e 10% em 1º de novembro.

O economista Edmar de Almeida, do grupo de Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que, do ponto de vista estratégico, não há muito espaço para um novo reajuste do preço do gás natural produzido no Brasil. Atualmente, comparou, o insumo nacional está sendo comercializado a um valor praticamente igual ao do importado da Bolívia. Outro aumento, alerta, poderia tornar o gás da Bacia de Campos mais caro que o gás importado.

¿ Não vejo lógica nisso ¿ afirmou.

Em Brasília, o secretário-adjunto do Ministério de Minas e Energia, João José de Nora Souto, afirmou que o país terá de fazer novas descobertas de reservas para garantir o abastecimento de gás natural depois de 2010. Segundo ele, a oferta atual garante o fornecimento do insumo só até o fim desta década, e mesmo assim porque o governo federal está implementando um programa de conversão de termelétricas.

Por esse programa, em 2007, 14 usinas termelétricas poderão produzir energia elétrica por meio da queima do gás natural e também do óleo diesel, o que flexibilizará a demanda.

¿ Considerando a previsão de crescimento do consumo a partir de 2010, nós necessitamos de novas descobertas de gás natural para o atendimento do mercado. Novas descobertas são necessárias para o país poder continuar a exploração e produção de gás natural ¿ disse Nora Souto.

Diferentemente do que fez no gás, a Petrobras não se pronunciou sobre a política de preços para gasolina e óleo diesel. Segundo reportagem publicada pelo JB e pela Gazeta Mercantil, os combustíveis produzidos pela estatal estão entre 16% e 27% mais caros que no mercado americano.

Com Ricardo Rego Monteiro e Fernando Exman