Título: Vale prevê jogo duro no preço do minério
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, Economia & Negócios, p. A18

Mineradora admite que siderúrgicas estão organizadas

Começou a briga pela fixação de novos preços em contratos de longo prazo de minério de ferro. Ao contrário do que disseminam as siderúrgicas às vésperas das negociações com as mineradoras, a companhia Vale do Rio Doce defende que a demanda não pára de crescer e fala até em escassez da matéria-prima.

- Eles não estão capturando a evolução da demanda que hoje mostra um mercado de escassez - afirmou o diretor de relação com investidores da mineradora, Fábio Barbosa. Segundo ele, as importações chinesas de minério até setembro já somam mais do que foi comprado em 2004.

O executivo destacou ainda que os preços do mercado à vista estão 50% mais elevados que os valores praticados pela Vale em contratos de longo prazo. O insumo contratado está hoje cerca de US$ 18 mais caro que o preço spot (à vista).

Barbosa admite, contudo, que o debate com as siderúrgicas não será ''normal''.

- Há um grau de organização percebido, quase como uma orquestra - disse.

Na semana passada, Arcelor e Baosteel, os maiores grupos siderúrgicos do mundo, expuseram a disposição em lutar pela queda do preço do minério. O setor passa por um momento de queda das margens de lucro e ainda guarda estoque de aço.

Para garantir a oferta necessária ao mercado, a Vale planeja produzir este ano 250 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas. O aumento da capacidade de produção em 2006 será da mesma ordem que o de 2005: aproximadamente de 20 milhões de toneladas.

- Vai depender da capacidade de viabilizar investimentos - pondera Barbosa. Segundo ele, a Vale vem enfrentando aumento de custos que vão do reajuste de combustíveis ao encarecimento de peças e equipamentos. E a alta reflete, ironicamente, os reajustes do aço e do minério de ferro. - A resposta à oferta está atrasada.

O câmbio valorizado, outra queixa da empresa, prejudica a competitividade da companhia. Mesmo assim, a Vale bateu recorde de investimentos dos últimos 12 meses, com US$ 3 bilhões. Para os próximos meses a mineradora pretende expandir a produção de Carajás para 85 milhões de toneladas de minério; da Alunorte, com mais 1,8 milhão de toneladas de alumínio, além dos projetos de potássio e de logística.