Título: Jordanianos repudiam Zarqawi
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2005, Internacional, p. A12

Um dia depois das explosões em hotéis, com 56 mortos, população de Amã protesta contra chefe terrorista nascido no país

AMÃ - Centenas de jordanianos protestaram ontem em frente a um dos hotéis atacados por homens-bomba na quarta-feira. Os manifestantes gritavam palavras de ódio ao número 2 da Al Qaeda, Abu Musab al-Zarqawi, depois que o grupo assumiu a autoria do atentado que deixou pelo menos 56 mortos, entre eles um americano, e mais de 100 feridos.

''Queime no inferno, Abu Musab al-Zarqawi, vilão e traidor!'' e ''Nós sacrificamos nossas vidas por Amã'' eram frases entoadas pela multidão. Os protestos na capital da Jordânia reuniram grupos islâmicos radicais e organizações de esquerda, tradicionalmente críticas das políticas moderadas do rei Abdullah II para o Ocidente.

Outras cidades do reino também presenciaram manifestações, como Zarqa, a terra natal do terrorista, e Maan, no Sul do país - zona de fundamentalistas.

A rede terrorista divulgou um comunicado na internet citando a guerra no Iraque e afirmando que Amã é ''quintal dos inimigos da religião, dos cruzados e judeus, um ugar sujo para os traidores e centro da prostituição''. Sua autenticidade não foi comprovada, mas o texto foi publicado num site islâmico que costuma divulgar mensagens do grupo.

- A cultura de explodir bombas em locais públicos por qualquer razão não tem justificativas - declarou o vice-primeiro-ministro Marwan Muasher.

Muasher disse que o jordaniano Zarqawi, por quem os EUA oferecem US$25 milhões em recompensa, é o principal suspeito da idealização do ataque. O terrorista é conhecido por sua animosidade à monarquia do país. O comunicado, divulgado na internet, não menciona o rei Abdullah, mas se refere duas vezes ao ''tirano da Jordânia''.

Comenta-se agora nas ruas de Amã as coincidências com o 11 de setembro: ''Você percebeu que hoje é 9/11, como o 11/9 americano?'', dizia um texto que circulou na capital no dia dos ataques.

Em Washington, o presidente americano, George Bush, condenou os atentados, afirmando que os EUA vão ajudar a levar os culpados à Justiça:

- As mortes devem nos lembrar que há um inimigo no mundo que mata pessoas inocentes, bombardeia um casamento em nome de sua causa.

O porta-voz da polícia, Bashir al-Da'aja, afirmou que o terrorista que atacou o Days Inn tentou detonar sua bomba no saguão do hotel, mas o explosivo só funcionou quando ele correu para fora. Já no Radisson, os suicidas se explodiram pouco antes das 9h, durante um casamento de palestinos que reunia 300 convidados. Onze parentes dos noivos morreram.

No Grand Hyatt, onde três funcionários da Segurança da Autoridade Nacional Palestina morreram, o terrorista era provavelmente do Iraque, segundo uma fonte da Segurança da Jordânia. Um funcionário que interceptou o suspeito no hotel contou que ele tinha sotaque iraquiano. Minutos depois, o suicida detonou os explosivos escondidos em seu terno. A polícia da informou que prendeu iraquianos suspeitos de envolvimento com os crimes.

O porta-voz do governo de Bagdá, Laith Kubba, afirmou que o ataque deve alertar a Jordânia que é necessário parar de abrigar ex-integrantes do regime de Saddam Hussein.

- Espero que esses ataques acordem o país de que é preciso acabar com a simpatia com os remanescentes de Saddam, que gozam de liberdade e abrigo no país para planejar seus crimes contra iraquianos - afirmou.

Bagdá sofreu ontem um atentado planejado também por Zarqawi. O ataque ocorreu num restaurante no centro da cidade em frente ao Hotel Palestina, deixando 31 mortos e 28 feridos.

''Um de nossos jovens leões se infiltrou numa reunião de infiéis das forças pérfidas Badr (xiitas) no restaurante Kadduri e lhes inflingiu inúmeras baixas'', diz um comunicado publicado na internet.