Título: Relatório aponta Palocci
Autor: Renata Moura e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 10/11/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - Dos petistas que convocaram ministros de Lula para depor em seu favor no Conselho de Ética, o caso do deputado José Mentor (PT-SP) pode ser o que mais dará trabalho ao governo. Em seu relatório de defesa entregue na semana passada ao relator do seu processo, deputado Edmar Moreira (PFL-MG), o parlamentar paulista cita como co-responsáveis pela ausência de investigações relacionadas ao Banco Rural à época da CPI do Banestado, o ministro Antônio Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mentor tenta se justificar com relação às acusações da ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina, de que o petista - enquanto relator da CPI do Banestado - teria favorecido o Banco Rural com a exclusão da instituição bancária do rol dos investigados de remessas ilegais de dinheiro para o exterior. Mas acaba atingindo Palocci e Meirelles. - Ciente da situação fartamente retratada, o deputado José Mentor realizou consultas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ambos confirmaram as dificuldades daquele momento, bem como a possibilidade de ocorrer um descrédito generalizado dos bancos pequenos e médios, e do sistema bancário como um todo - diz um trecho do relatório da defesa. A defesa de Mentor recoloca o ministro da Fazenda sobre o palco da crise no momento em que a oposição ameaça endurecer com o comandante da área econômica do governo. A cautela com Palocci deu sinais de esgotamento durante a semana, quando os principais líderes da oposição insinuaram convocá-lo para dar explicações na CPI dos Bingos sobre as denúncias de Ribeirão Preto e eventual repasse de verbas do governo cubano para a campanha de Lula. O texto ainda traz ressalvas quanto ao posicionamento do voto de Mentor, que especificou a necessidade de uma ''força tarefa'' formada pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal, Banco Central e Receita Federal para investigar bancos que foram vendidos, negociados, e ainda aqueles que sofreram intervenção, inclusive o Banco Rural. - Quero ver se o doutor Henrique Meirelles vai negar que procurei por ele e por Palocci à época. Não quero que me defendam, não preciso disto. Só quero que confirmem a verdade - afirmou o deputado José Mentor . Se por um lado o texto de defesa ataca o governo, por outro pondera. No tópico 64 do documento, há um destaque para a ''conjuntura do mercado financeiro reinante naquele período''. O texto do documento destaca: - Um breve apanhado das providências adotadas pelo Banco Central, bem como das manifestações da imprensa, mostra quanto sensível e vulnerável estará a situação do mercado financeiro, a exigir o máximo de cautela em fazer da existência efetiva de um risco sistêmico.