Título: Venda da indústria cai pelo 3º mês
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. A19

As vendas da indústria caíram pelo terceiro mês consecutivo em setembro, consolidando os sinais de arrefecimento da atividade industrial. Segundo os Indicadores Industriais, divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em setembro as vendas declinaram 1,07% frente a igual mês do ano passado e 0,47% na comparação com agosto, com ajuste sazonal. Em agosto e julho, as quedas mensais foram de 1,02% e 0,60%, respectivamente.

Este não foi o único indicador que aponta retração entre os dados da CNI. Emprego e horas trabalhadas também apresentaram recuo. De acordo com o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, na média, o terceiro trimestre acumulou queda de 0,66% nas vendas frente aos três meses anteriores.

- O terceiro trimestre reflete o aperto monetário e a inversão não deve ser tão rápida, mesmo com o início da queda dos juros. Altas seguidas na taxa Selic acumulam efeito que só deverá ser revertido depois de meses seguidos de queda - explicou Castelo Branco.

Além dos juros, pesa na atividade industrial a desvalorização do dólar, que acumula queda de 20,6% em um ano, segundo a CNI. Além disso, a concessão de crédito, que vinha estimulando as vendas de bens duráveis, já apresenta sinal de arrefecimento. No segundo trimestre, o volume de crédito foi de R$ 2,15 bilhões, cifra que caiu para R$ 2,01 bilhões nos três meses seguintes, calcula a CNI. Segundo Castelo Branco, a diminuição no ritmo de novos financiamentos já era esperada, pois há um esgotamento da capacidade de pagamento dos assalariados.

O mercado de trabalho industrial também sentiu os efeitos do desaquecimento da atividade no último trimestre, em setembro especialmente. O número de trabalhadores caiu 0,1% no trimestre ante o período anterior, rompendo uma trajetória de expansão do emprego que durou sete trimestres. Na comparação com agosto, com ajuste sazonal, a queda foi de 0,03%.

- A geração de emprego, que tanto vinha chamando a atenção, agora entrou em estabilidade e já apresenta queda em setembro. Os tempos bons do emprego já passaram - ressaltou Paulo Mol, também economista da entidade.

Apesar da recente acomodação no mercado de trabalho industrial, o crescimento do emprego em 2005 ainda é recorde. De janeiro a setembro a alta foi de 5,65%. Se a estabilidade do indicador continuar até o fim do ano, a projeção de crescimento do emprego para o ano é de 4,2%, superando o recorde de 3,5% em 2004. Mol afirma que o crescimento do emprego neste ano está assegurado, mas o cenário para 2006 é totalmente incerto.

A única variável que destoa do cenário de desaquecimento da atividade é a massa de salários, que cresce há sete meses seguidos. Em relação a agosto, a alta foi de 0,43% e, no acumulado do ano, de 8,76%. Já a utilização da capacidade instalada apresentou a maior queda dessazonalizada entre dois meses seguidos desde 1992, início da série - aos 80,7% em setembro, ante 82,8% em agosto. Em setembro de 2004 o indicador estava em 84,1%.