Título: TAP consegue negócio da China
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2005, Economia & Negócios, p. A20

A ''salvação'' para evitar o arresto de até 40 aeronaves da Varig custou à TAP apenas US$ 3 milhões. Este foi o valor desembolsado pela estatal portuguesa para controlar VarigLog e Varig Engenharia e Manutenção (VEM). Ontem, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, a diretoria da Varig e a cúpula da TAP assinaram o contrato de venda das subsidiárias por US$ 62 milhões, sendo US$ 20,6 milhões depositados em dinheiro e os US$ 41,3 restantes financiados pelo banco de fomento. A operação de venda já foi autorizada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC).

O baixo valor do aporte feito pelos portugueses é explicado pela intrincada organização das empresas que controlarão VarigLog e VEM. As duas companhias serão capitaneadas pela Aero-LB, constituída pela portuguesa Reaching Force, com 20% do capital votante e pelo fundo brasileiro de investimentos Stratus, com os 80% restantes. Dois terços do capital da Aero-LB sem direito a voto pertencem à Reaching Force.

A empresa portuguesa, por sua vez, é pertencente à TAP e à GeoCapital. Atualmente, a TAP possui apenas 15% das ações da Reaching Force, o que implica no aporte de apenas US$ 3 milhões da empresa aérea na Sociedade de Propósito Específico (SPE) constituída pelo BNDES para compra de VarigLog e VEM.

De acordo com Fernando Pinto, diretor-presidente da TAP, a partir de 2006 a estatal elevará sua participação na Reaching Force para 50,1%, cabendo 49,9% para a GeoCapital, empresa com sede em Macau - enclave de língua portuguesa na China - e com o controle dividido entre dois bancos, um fundo de investimento e o bilionário Stanley Ho.

Já o Stratus é controlado por Álvaro Gonçalves, ex-diretor da Lacta, e Alberto Camões, ex-responsável por fusões e aquisições do banco Pactual.

No total, o BNDES emprestará R$ 91,8 milhões à Aero-LB. O financiamento terá prazo de 63 meses, com carência de 26 meses e spread total de 4,5%.

Fernando Pinto afirmou que o negócio é positivo para a TAP, já que cerca de 30% do tráfego aéreo da estatal é para o Brasil. O executivo, no entanto, não esclareceu quanto a empresa gastará na segunda fase da reestruturação da Varig, embora tenha reafirmado o compromisso de trazer investidores que aportem US$ 500 milhões.

- A proposta (de investimento na Varig) ainda não está definida. Depende do valor que acharmos adequado - disse Fernando Pinto.

O presidente do Conselho de Administração da Varig, David Zylbersztajn, afirmou que a negociação das subsidiárias garante sobrevida à empresa brasileira, já que os US$ 62 milhões serão utilizados para quitar parcelas atrasadas de aluguel de aeronaves.

- O que vai ser pago é para garantir a continuidade do processo de recuperação da Varig - ressaltou Zylbersztajn.

Hoje, em Nova York, o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, Fernando Pinto e executivos do BNDES têm audiência marcada com o juiz Robert Drain, da corte de falências local. Na reunião estará em jogo a liminar que protege de 20 a 40 aeronaves da Varig. Fontes afirmam que as empresas de leasing pedirão a retomada imediata dos aviões, a despeito do pagamento dos US$ 62 milhões. O mais provável, segundo as mesmas fontes, é que o juiz opte por uma solução intermediária, sem retirar a proteção, mas obrigue a Varig a cumprir um cronograma de devolução de aparelhos para os credores insatisfeitos.

Em meio ao risco de perder aeronaves, a Varig aposta em promoções para recuperar participação de mercado. Desde ontem, as passagens domésticas de ida e volta da companhia, exceto a ponte aérea, para o período de 12 a 19 deste mês estão 75% mais baratas. A viagem Rio-Brasília sai agora por R$ 607, enquanto a São Paulo-Brasília Paulo caiu para R$ 580.