Título: Lula ignora Palocci em discurso sobre economia
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2005, País, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a elogiar ontem a política econômica do País, mas em nenhum momento creditou o sucesso ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Durante discurso de abertura da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, o presidente exaltou o crescimento da economia - como o resultado das contas correntes, balança comercial e queda da inflação - sem fazer qualquer menção ao ministro. - Se analisarmos o crescimento econômico, vamos concluir que estamos com uma base sólida para que o País deixe de ser eternamente emergente e se transforme num País definitivamente grande - disse Lula.

A fala do presidente era muito aguardada. A expectativa era de que o presidente da República aproveitasse o momento para fazer uma defesa pública do titular da pasta da Fazenda.

Alvo de denúncias sobre suposto envolvimento no esquema de propina quando era prefeito na cidade de Ribeirão Preto, e de críticas da ministra da Dilma Rousseff, da Casa Civil, sobre a condução da política econômica, Palocci vive o seu pior momento no governo. A ministra Dilma, por sua vez, ganha força ao defender que o governo gaste mais com investimentos em obras, uma alavanca para a reeleição.

Lula estava aparentemente tranqüilo durante seu discurso e o fato de seu principal auxiliar estar prestes a ser sabatinado pelo Senado parecia não importuná-lo. Em sua fala, o presidente pediu à população que refletisse sobre o momento político do País.

- Acho que precisamos refletir sobre o que acontece no País para que não joguemos fora as oportunidades que já alcançamos - disse.

Lula evitou falar sobre eleições, mas lembrou que ano eleitoral é muito delicado ao País, já que o Brasil sempre foi pensado em curto espaço de tempo.

- O Brasil sempre foi pensado de quatro em quatro anos. E não em vinte, trinta anos. E de quatro em quatro anos, a nação fica tão medíocre quanto os dirigentes que a dirigem - disse.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, também participou do evento. Ele acredita que a serenidade e habilidade de Palocci serão suficientes para que continue levando adiante seu trabalho à frente da pasta da Fazenda.

Ele justificou o fato de o presidente Lula não ter mencionado em seu discurso a ida de Palocci à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado - ou mesmo feito algum tipo de defesa - devido ao fato do público presente na Conferência ser da área de ciência e tecnologia.

- Acho que o discurso do presidente foi na dose certa. Percebemos que ele está tranquilo, sereno - disse Furlan, brincando que a única preocupação do presidente, naquele dia, era o jogo do Corinthians.