Título: Cicco afirma que contratou Kroll
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2005, País, p. A5

A ex-presidente da Brasil Telecom, a italiana Carla Cicco, prestou um depoimento que suscitou polêmica na CPI dos Correios. Antes, ela assinou um termo, comprometendo-se a não mentir. A primeira afirmação polêmica de Carla ocorreu quando ela tentou explicar o contrato assinado com a Kroll Associates para espionar políticos e desafetos do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity e controlador da Telemig Celular e Amazônia Celular. Depois de ouvir seus advogados, Carla Cicco garantiu que todas as despesas com a Kroll haviam sido pagas pela Brasil Telecom, que era também controlada por Dantas.

¿ Não vão encontrar nenhuma nota fiscal da Telemig ¿ garantiu Carla. Os relatórios de inteligência da Polícia Federal ¿ aos quais o Jornal do Brasil teve acesso ¿ relacionam as notas fiscais da Kroll Associates em favor da Telemig Celular. As notas foram recolhidas na sede da Kroll Associates, em São Paulo, durante operação de busca e apreensão da PF.

As três telefônicas controladas por Dantas injetaram R$ 152 milhões nas empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do mensalão. A Receita Federal fez uma análise por amostragem e descobriu que, entre 27 notas fiscais que iam ser queimadas por Valério, 10 delas eram notas frias, que a DNA emitiu em favor da Amazônia Celular, de Dantas.

Outra afirmação de Carla foi contestada em meio ao depoimento. Ela afirmou que não conhece o jornalista Paulo Henrique Amorim, espionado pela Kroll Associates e pelo araponga israelense Avner Shemesh, a pedido de Dantas.

¿ Eu nunca soube da existência desse senhor, o Paulo Henrique Amorim ¿ disse Carla Cicco.

O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu durante a sessão um telefonema do jornalista. Osmar lembrou a Carla Cicco que em 2003 ela almoçou com Paulo Henrique, junto com outras três testemunhas. Carla acabou admitindo o encontro, mas insistiu que não se lembrava.

Carla fez várias outras afirmações que levantaram suspeitas entre os parlamentares. A ex-presidente da Brasil Telecom garantiu que não se lembra de sua remuneração quando trabalhava para a Telecom Itália. Os deputados queriam comparar o salário com o que ela passou a ganhar na Brasil Telecom, para tentar chegar à tese da cooptação feita por Daniel Dantas. O banqueiro ¿ que disputava o controle da Brasil Telecom com a Telecom Itália, os fundos de pensão e o Citibank ¿ é conhecido por contratar pessoas ligadas a seus inimigos.

Outra relato feito por Carla que não convenceu os deputados é o total desconhecimento que ela tentou demonstrar em relação ao Grupo Opportunity, que a contratou. Ela garantiu desconhecer a formação societária da empresa, para quem prestou consultoria e trabalhou por cinco anos.

Carla disse na CPI que desconhece a participação societária da Brasil Telecom no Consórcio Voa, empresa dona dos aviões que utilizava. Quando o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) insistiu no assunto, Carla Cicco informou que a Brasil Telecom tinha 15% do consórcio Voa.

A executiva confirmou ter recebido relatórios de espionagem da Kroll Associates sobre o ex-presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Ela recebeu um filme feito pela Kroll em Lisboa, sobre um encontro de Casseb com executivos da Telecom Itália.

Pelos cálculos de Carla, foram feitos pagamentos de US$ 7 milhões (R$ 15,3 milhões) à Kroll Associates, pela espionagem feita ao longo dos últimos três anos. Os pagamentos, diz ela, eram feitos no exterior. O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) pediu que Carla encaminhe cópia do passaporte para a CPI. Durante o depoimento, Carla Cicco não soube dar detalhes sobre a contratação do espião Avner Shemesh pelo Grupo Opportunity, para espionar desafetos do banqueiro. Carla afirmou que Shemesh não prestou serviços à Brasil Telecom. Isso ¿é quase uma certeza¿, disse ela.