Título: Delcídio para Lula: BB é ''gelada''
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), sugeriu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em audiência realizada nesta semana, que não comente mais a informação de que o Banco do Brasil, por meio da Visanet, financiou o esquema ilegal de distribuição de recursos ao PT e partidos aliados operado por Marcos Valério. Delcídio decidiu fazer a recomendação a fim de impedir mais um desgaste político para o PT e o governo, que já tiveram versões para irregularidades cometidas desmentidas pelos fatos. ¿ É tudo verdade, presidente. Não entre nesse troço que é gelada ¿ afirmou o senador.

Líder do PT no Senado, Delcídio considerou necessária a sugestão depois de o deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT) classificar de precipitado o anúncio pela CPI dos Correios da triangulação entre Banco do Brasil, Marcos Valério e PT. Também pesou na decisão a entrevista concedida por Lula ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na qual o presidente afirmou que o Banco do Brasil não admitia ter financiado o partido. Haveria, conforme o presidente, embate de versões.

Durante a conversa com Delcídio, Lula teria dito que Rossano Maranhão, presidente do Banco do Brasil, garantia a lisura das operações com as agências de Marcos Valério. A resposta foi imediata.

¿ É melhor não falar mais nada. É batom na cueca ¿ declarou Delcídio Amaral. A principal arma nas mãos do presidente da CPI dos Correios é uma ata de reunião da DNA Propaganda. O documento mostra que os cotistas da agência autorizaram a apresentação de CDB¿s como garantia para os cerca de R$ 10 milhões contratados no BMG. No entender da CPI, a operação bancária teve o objetivo de ¿esquentar¿, dando um ar de legalidade, o repasse de recursos do Banco do Brasil para o PT. A preocupação com a possibilidade de falta de sensibilidade política mostrou-se pertinente ontem.

Apesar de o presidente Lula ter declarado que o Planalto não dificultaria as investigações em curso, o governo deflagrou uma operação para abafar a ampliação dos trabalhos da CPI dos Correios de dezembro até abril de 2006. Perdeu por um voto e ainda teve de ouvir as provocações da oposição. ¿ Com o dinheiro da nação (emendas parlamentares), de forma espúria, o governo convenceu 66 deputados a retirar as assinaturas do requerimento de prorrogação. Não foi suficiente, porém, para bloquear o prosseguimento das investigações, que o dia a dia vão desvendando a corrupção sistêmica que se estende do governo Lula ao PT ¿ afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), em nota.

Delcídio defendia uma negociação política para definir novo prazo para o término da CPI. Se o diálogo ocorresse, sugeriria o mês de fevereiro. Seria uma espécie de meio-termo entre o desejo do governo, de começar 2006 sem a pressão da comissão nos ombros, e a vontade da oposição, de sangrar o presidente Lula o máximo possível durante o ano eleitoral. De acordo com Delcídio, a extensão do prazo até fevereiro não prejudicaria as investigações, pois a sub-relatoria dos fundos de pensão, cujos trabalhos começaram mais tarde, tem à disposição uma consultoria internacional (Ernest & Young) e o apoio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

¿ Foi uma decisão insensata ¿ avaliou Delcídio, sobre a prorrogação dos trabalhos da CPI até abril.

De forma reservada, outras lideranças governistas concordaram com o diagnóstico. Dizem que seria melhor para o presidente Lula aceitar fevereiro como data-limite para os trabalhos, mesmo desejando a conclusão das investigações e das cassações em 2005. Se a oposição rechaçasse a proposta, o Planalto poderia acusar PSDB e PFL de fazer das comissões de inquérito palanque eleitoral.