Título: Derrota custa caro ao governo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2005, País, p. A3

Lula comanda ofensiva para evitar prorrogação da CPI dos Correios, mas oposição consegue os votos necessários

BRASÍLIA - O governo manobrou, prometeu dinheiro de emendas do Orçamento e usou vários ministros na operação, mas acabou derrotado na madrugada de ontem com a confirmação de que a CPI dos Correios será prorrogada até 11 de abril. Foi uma derrota dolorida para o Palácio do Planalto, pois faltou apenas um nome para impedir a vitória da oposição. PFL e PSDB conseguiram reunir o número mínimo necessário de assinaturas - 171 deputados

- e adiaram o fim das investigações da CPI. A comissão encerraria seus trabalhos em 11 de dezembro. Agora, pode funcionar até o início do calendário eleitoral.

O resultado oficial das manobras da madrugada de quinta para sexta-feira, quando o governo trabalhou para forçar a retirada de nomes do requerimento de apoio à prorrogação da CPI, só saiu no fim da manhã de hoje.

Isso depois de muito vaivém entre Câmara e Senado e o questionamento de petistas - que pleiteavam a inclusão de nomes na lista de desistentes.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em entrevista ao programa ''Roda Viva'', da TV Cultura, afirmara que não atuaria contra a CPI, empenhou-se pessoalmente para atrair congressistas para a lista dos desistentes, que acabou chegando a 66 deputados.

O Planalto queria evitar a todo custo o funcionamento da CPI no ano em que Lula deve tentar a sua reeleição.

Para angariar apoios, o governo liberou verbas para as emendas que os aliados fizeram ao Orçamento. O expediente já havia sido tentado em maio, quando o Planalto trabalhou duramente para impedir a instalação da CPI dos Correios. Na ocasião, também não obteve êxito.

- É um exagero prorrogar por tanto tempo - lamentou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O líder petista pretende, porém, recorrer da decisão ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Ontem o secretário-geral da Mesa do Senado, Raimundo Carreiro, anunciou que já havia mandado publicar no Diário Oficial do Congresso a prorrogação dos trabalhos da CPI.

- O presidente Renan Calheiros me telefonou e me orientou que se o documento tivesse legalidade, com as assinaturas necessárias, se tivesse obedecido a cronologia da ordem de entrada dos pedidos, e se tivesse feito a conferência das assinaturas, podia considerar como válido e mandar publicá-lo - disse Carreiro.

O governo, porém, vai insistir com Renan para que considere o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) como desistente. O nome dele aparece na lista dos que defenderam a extensão da CPI. Dornelles funcionou como voto de minerva, mesmo a contragosto. Inicialmente, o parlamentar havia, de fato, assinado a lista pela prorrogação.

Ontem, porém, já anunciava que havia desistido, a pedido do presidente de seu partido, Pedro Corrêa (PE). Ele enviou um ofício à secretaria-geral da Câmara, mas hoje, ao conferir as assinaturas, o órgão chegou à conclusão que ela não conferia com a oficial. Com isso, manteve Dornelles entre os que pediam mais investigação. E foi justamente por causa do nome dele que a oposição atingiu o mínimo necessário.

Ontem, o parlamentar enviou outro ofício à secretaria-geral no qual informa que seu desejo é desistir da prorrogação e que a assinatura do documento anterior é mesmo sua.

A oposição não pretende aceitar calada os esperneios do governo. Quatro assinaturas foram consideradas pela secretaria da Câmara como diferentes das oficiais. Entre elas há um deputado do PT, Paulo Rubem Santiago (PE), que hoje disse que quer a prorrogação. Os outros três, diz a oposição, também são favoráveis ao adiamento.

Com Folhapress