Título: Troca rápida na Fazenda
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2005, País, p. A4

Lula está disposto a tirar Palocci logo, para evitar que denúncias agravem crise

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do núcleo político do governo já ensaiam pelo menos duas alternativas políticas a uma eventual saída do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, caso sua situação se torne insustentável nos próximos dias em decorrência da crise. Hoje o candidato natural para assumir as rédeas da política econômica, na hipótese de troca no comando, seria o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, um nome mais palatável ao mercado e que representaria a manutenção dos fundamentos da economia.

Mas no seio do governo discute-se uma mudança que inauguraria uma nova fase do governo, mais desenvolvimentista e menos atrelada à austeridade fiscal , voltada sobretudo para o crescimento econômico: a substituição de Palocci pelo ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB).

Essa saída, considerada no Planalto como ''heterodoxa'', de linha mais ''chavista'', termo alusivo ao presidente venezuelano, teria o aval da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A exemplo de Dilma, Ciro é um dos críticos do rigor fiscal e do aumento de juros como único recurso para controle da inflação e se cacifou no governo na conjuntura da crise.

Além de ocupar uma pasta importante, a Integração Nacional, responsável por tocar uma das principais obras de Lula, a transposição do Rio São Francisco, Ciro passou a integrar o chamado Gabinete da Crise em companhia dos ministros do núcleo político do Planalto, que operam hoje como uma espécie de conselheiros do presidente. Com Ciro na Fazenda, argumentam os partidários da idéia, Lula o teria como carta na manga para as eleições de 2006 num cenário em que o agravamento da crise o forçaria a desistir de concorrer.

Embora o presidente Lula tenha assegurado a permanência de Palocci, até como uma forma de se antecipar a uma eventual reação adversa do mercado, depois de o ministro avaliar a possibilidade de sair, segundo assessores do Planalto uma substituição não pode ser descartada.

Durante a semana, as divergências públicas com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, contribuíram para amplificar a tensão política. Apesar da intervenção de Lula, que numa reunião com Dilma e Palocci anteontem pediu para que os dois se entendessem e retomassem os trabalhos, o clima no governo ainda é pesado como uma nuvem carregada prestes a se transformar num temporal, num cenário de raios e trovoadas.

O governo teme, por exemplo, os efeitos do depoimento na CPI dos Bingos do assessor especial de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, cujo quebra do sigilo telefônico mostrou 1.400 conversas com Vladimir Poleto, o ex-assessor da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) que teria transportado dinheiro enviado por Cuba para a campanha do PT em 2002.

Anteontem, o ex-assessor Rogério Buratti revelou à CPI dos Bingos que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tinha conhecimento da doação não declarada feita por donos de bingos de São Paulo à campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.

- Não há como negar que o clima não é bom. O sinal de alerta está aceso. No contexto da crise já vivemos momentos piores mas muito melhores também. O governo aguardando novos acontecimento - afirmo um auxiliar do presidente.

Lula tem dito a interlocutores que se arrepende de não ter tirado o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu, no rastro do caso Waldomiro Diniz e não pretende incorrer no mesmo equívoco agora, caso Palocci permaneça sob o fogo da oposição e a sombra de Ribeirão Preto. O pior para o governo, avalia um ministro palaciano, seria a queda de Palocci no ano eleitoral.