Título: Oposição chama de cinismo a retirada de assinaturas
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2005, País, p. A4

Tucanos contestam afirmação de presidente de que queria investigações até o fim

BRASÍLIA - Diante da operação governista para tentar evitar a prorrogação da CPI, a oposição afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou ''cinismo'' ao dizer em entrevista ao programa Roda Viva, na última segunda-feira, que queria que as investigações feitas pelo Congresso fossem até o fim.

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), do mesmo partido de Lula, também criticou e disse que o Palácio do Planalto adotou a estratégia errada.

- Eu acho que o governo podia ter negociado com a oposição um prazo anterior a abril. Faltou diálogo, o governo perdeu a oportunidade de conversar - disse o senador petista.

- Se ele [Lula]tivesse conseguido retirar as assinaturas suficientes demonstraria seu cinismo mas também sua força. Como não conseguiu, ficou patente a fraqueza do governo, o fisiologismo e como estão atarantados, perdidos - afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Na entrevista concedida na última segunda-feira, o presidente Lula disse que ''não há ingerência do governo para criar qualquer problema para a CPI''. Ele também criticou o ''denuncismo'' que existiria no país e afirmou ser necessário aguardar o fim das investigações para só então fazer julgamentos.

O requerimento apresentado pelo PFL para prorrogar a CPI até abril possui a assinatura de 171 deputados - o mínimo exigido, que corresponde a um terço das cadeiras da Câmara - e de 35 senadores - oito a mais do que o necessário. O governo conseguiu retirar o apoio de 66 deputados à proposta.

Na Câmara, o líder tucano Alberto Goldman (SP) foi na mesma linha de Arthur Virgílio.

- O presidente Lula não tem sido sincero com a população brasileira. Infelizmente ele tem procurado confundir a população e mente com freqüência - disse ele.

Para o líder do PFL, senador José Agripino (RN), são uma ''farsa'' as declarações do presidente Lula de que apóia o trabalho das CPIs.

- Queda e coice. Além de se expor trabalhando pela retirada de assinaturas, tornando claro que a entrevista de Lula foi uma farsa, vão ter que se submeter às conseqüências da derrota - afirmou o pefelista.

Em defesa de Lula, integrantes da base aliada defenderam a manobra, afirmando que a comissão parlamentar de inquérito tem que acabar no prazo previsto inicialmente - no mês que vem - porque representaria crise para o governo e estaria antecipando o debate eleitoral do próximo ano.

O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que estava na linha de frente da operação de retirada de assinaturas, disse que ''governo não gosta de crise e CPI é crise''.

- O governo aceitou as CPIs, quer que investiguem, mas há um fato inadmissível: elas fogem diariamente de seus objetivos e estão se transformando em comícios eleitorais antecipados - completou Greenhalgh.

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse lamentar que as investigações tenham coincidido com as eleições:

- É azar que em um momento como esse estejamos entrando em ano eleitoral. Não há como interesses eleitorais não incidirem nos trabalhos (FP).