Título: Roberto Jefferson volta às origens
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/11/2005, País, p. A5
Advogado criminalista, o ex-deputado atua como assistente da acusação em caso de homicídio no Mato Grosso
VERAS (MT) - Afastado da vida pública depois da cassação de seu mandato em 14 de setembro, o ex-deputado Roberto Jefferson voltou à cena, desta vez como advogado criminalista, profissão que não exercia há quinze anos. O petebista aceitou trabalhar gratuitamente no julgamento do homicídio de uma garota de 12 anos no pequeno município de Veras, que fica a 420 quilômetros da capital do Mato Grosso. O convite foi feito por seu amigo e deputado do Estado Ricarte de Freitas (PTB-MT).
Jefferson atuará na acusação do julgamento que é o primeiro júri popular da cidade de cerca de 11 mil habitantes. O caso julgado trata-se do homicídio de Keyla Alba que foi assassinada a tiros na noite de 24 de novembro de 2001, na sua própria casa. Consta nos autos do processo que o atentado deveria atingir o seu pai, Augusto Alba, que era vereador no município. Augusto teria divergências políticas com a ex-prefeita Izane Konerat, irmã de Taffarel.
A policia prendeu Tarcísio Ribas Thiensen, acusado de ser o contratante de Isaias Galdino Silva e Charles Borges, executores do crime. Tacísio diz que foi contratado por Taffarel, que em depoimento, negou a contratação e disse que está sendo vítima de perseguição da mídia e de juízes.
Roberto Jefferson foi recebido como celebridade no município. Distribui autógrafos e tira fotografias com os moradores da região. A popularidade do ex-deputado preocupa o defensor de Taffarel, o advogados do Centro-oeste Cláudio Alves Pereira. Ele acredita que os argumentos emocionais do petebista e sua fama recém-adquirida pode influir no resultado.
O julgamento teve início na tarde de ontem e deve se estender pela madrugada de hoje. Diante do interesse da população em assistir a sessão, o júri foi transferido do fórum para a câmara municipal. Ainda assim o espaço não foi suficiente para comportar as quatro mil pessoas que foram assistir o julgamento. A saída foi instalar um telão na praça de Veras.
Apesar de ter tido pouco tempo para se preparar, Jefferson chegou muito confiante para o júri dizendo que o assassinato de Keyla é semelhante à ''Crônica de uma morte anunciada'', clássico do autor colombiano ganhador do prêmio nobel de literatura, Gabriel Garcia Marques. Segundo moradores da região, antes do julgamento Jefferson teria ido ao cemitério em que Keyla foi sepultada para ''se inspirar''.
- Todo mundo na cidade já sabia do crime. Havia um planejamento - afirmou Roberto Jefferson que atua como assistente da acusação.
O julgamento segui em clima tenso. A família da adolescente assassinada tentou entrar no julgamento vestindo camisetas com a foto de Keyla, mas foram proibidos pelo juiz Wendel Karielli. Os familiares ficaram indignados com a decisão do juiz e protestaram na sala do júri.
Antes do julgamento, Roberto Jefferson comentou o relatório parcial da CPI dos Correios que apontou o Banco do Brasil como suposto braço do esquema de pagamento de propina a parlamentares. O ex-deputado reafirmou suas acusações sobre o envolvimento de estatais no suposto mensalão e disse que não existe nenhuma novidade no documento da comissão, pois ele apenas repete tudo o que ele denunciou no início do mês de junho.
- Bati duro na empresa Correios, nas empresas de aviação, mas agora eles estão descobrindo que o Banco do Brasil também era uma minoridade no esquema das estatais - afirmou.
Como de costume, Jefferson aproveitou a oportunidade para bater, de forma irônica no governo.
- Vocês já viram macaquinho em loja de souvenir? Daqueles que põem a mão no ouvido nos olhos e na boca? O Lula é esse macaquinho. Não vê, não ouve e não fala - atacou.