Título: Bala usada aumenta polêmica
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2005, Internacional, p. A12
A polícia britânica matou o brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um terrorista, com balas do tipo ''dum dum'', proibidas em guerras por convenções internacionais.
A bala tem uma ponta oca, que se ramifica pelo corpo na hora do impacto, causando danos máximos à vítima. Apesar da potência, a Scotland Yard usou oito delas em Jean. Sete na cabeça e uma no ombro.
- Disseram para a gente que usaram um tipo de bala que quando atiram explode lá dentro. Então, por que atiraram tantas vezes se apenas uma já mataria? - perguntou Alessandro Pereira, primo do eletricista. - É mais uma coisa errada que fizeram - completou, insistindo na renúncia de Ian Blair, chefe da Scotland Yard.
Segundo o jornal The Daily Telegraph, foi a primeira vez que as forças de segurança britânicas empregaram esse tipo de munição. De acordo com a reportagem, tanto o uso da ''dum dum'' quanto a política de ''atirar para matar'' foram decididos pela polícia em segredo, sem consultar o parlamento.
- Se essas alegações forem verdadeiras temos motivos para ficar preocupados. Seria mais um sinal de que essa foi uma morte ilegal. Esperamos que essas informações contribuam para a investigação - declarou Harriet Wistrich, da equipe de advogados da família do brasileiro.
A munição, criada pelos ingleses para serem usadas em guerras contra a Índia (ex-colônia britânica), foi proibida pela Declaração de Haia, em 1899. No entanto, não existe restrição legal ao seu uso por forças policiais, já que a convenção somente se aplica aos exércitos. Segundo a Scotland Yard, seus comandantes podem escolher o tipo de munição mais adequado às suas necessidades.
O Ministério do Interior britânico informou que a polícia considerava o uso da munição há três anos.
Segundo um especialista em armas que não quis ser identificado, o uso das balas de ponta oca pode ser mais seguro, já que elas não ricocheteiam como as demais. A ''dum dum'' - nome em homenagem ao local onde foi fabricada, próximo a Calcutá - daria à polícia uma margem de segurança maior em disparos em locais lotados.
As novas informações aumentam a polêmica em torno da morte de Jean Charles, em 22 de julho, na estação de Stockwell (Sul de Londres). Há controvérsias sobre o comportamento dos policiais ao assassinarem o eletricista, que já estava imobilizado quando levou os oito tiros.
O caso ameaça o cargo do comissário da polícia, Ian Blair, que já admitiu que poderá renunciar. Os resultados da investigação da Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês) estão previstos para ser divulgados em dezembro.