Título: Depoimento preocupa estrangeiros
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

Os mercados internacionais acompanharam de perto o depoimento do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Durante todo o dia de ontem, foi grande o grau de preocupação com a possível saída do ministro do cargo.

A tensão, na verdade, vinha desde terça-feira, dia em que os mercados brasileiros foram poupados pelo feriado da Proclamação da República. Analistas e investidores estrangeiros se concentraram na tentativa de enxergar quem poderia substituir Palocci caso o ministro não resistisse ao depoimento de ontem.

Gerentes de fundos de investimentos europeus registraram um aumento no número de perguntas encaminhadas por clientes pedindo informações sobre a crise brasileira.

- Estou muito preocupado. Tem gente achando que o Palocci pode anunciar sua saída nesta quarta-feira (ontem) e estamos no escuro. Nesta altura dos acontecimentos, tudo pode acontecer - disse um deles.

O futuro de Palocci dominou o capítulo dedicado ao Brasil nos relatórios dos bancos estrangeiros. E não havia uma opinião consensual. Alguns apostavam na saída do ministro, outros acreditavam em sua permanência. Mas havia um ponto de concordância: enquanto a crise não tiver um desfecho, o nervosismo nos mercados tende a aumentar.

O maior medo era de que, em caso de queda de Palocci, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optasse por uma decisão política e escolhesse um ministro com poderes limitados e sem a confiança do mercado. O temor cresceu à medida que perdia força o nome de Murilo Portugal nas bolsas de apostas para substituir Palocci.

O jornal britânico Financial Times foi mais uma a citar ontem a tensão que rodeava o ministro brasileiro. Segundo o jornal, os rumores em torno da possível saída de Palocci do governo ''sacudiam'' os mercados.

''Os investidores em mercados emergentes vão se concentrar em Brasília nos próximos dias enquanto Palocci, que conduziu a economia do Brasil em meio a um escândalo de corrupção ao longo dos últimos seis meses, decide se fica ou não no governo'', afirmou o FT.

O diário lembrou que os boatos sobre a renúncia de Palocci levaram o real a se desvalorizar 2,4% diante do dólar na segunda-feira.

''A pressão sobre Palocci sinaliza um aumento do conflito entre o governo e a oposição, que vinha até agora preservando-o de ataques diretos e apoiado os projetos econômicos do governo'', disse.

O FT observou ainda que permitir a saída de Palocci seria uma estratégia de alto risco para o governo.

Com agências