Título: Mercado antecipa troca
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2005, Economia & Negócios, p. A17
Se as críticas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já fizeram o mercado tremer no passado, ontem a calmaria reinou entre os operadores. As críticas leves da oposição, além do fato de o mercado já estar preparado para uma eventual saída do ministro, ajudaram a criar um cenário positivo ontem. Desde o início do dia, os índices apresentavam tendência de melhora em relação à segunda-feira. Antes do meio-dia, o dólar havia batido R$ 2,190. Sinal, segundo o economista-chefe da GRC Visão, Jason Vieira, de que o mercado já havia ''precificado a saída de Palocci'', em outras palavras, já havia antecipado o impacto do fato nos preços dos ativos.
- A troca do ministro já deixou de ser um problema. Talvez já exista a interpretação de que a economia independe de seu atual comandante - avalia Vieira.
O mercado à vista demonstrou pequena sensibilidade ao discurso do ministro. Antes da explanação da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado, o dólar passou por uma alta, porém abaixo dos níveis do fechamento da última segunda. Depois, a moeda assumiu tendência de queda e fechou cotada a R$ 2,204, queda de 0,27%. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as perdas do último pregão foram recuperadas ontem, com o Ibovespa - principal índice da bolsa - aos 30.482 pontos, alta de 0,87% ante segunda. A taxa de juros futura com vencimento em maio caiu de 17,77% na segunda para 17,70% ontem.
- O depoimento não trouxe nenhuma novidade, tanto é assim que o mercado praticamente ignorou o evento - afirmou Vieira.
Soma-se a isso a ajuda dada pela oposição, que, segundo analistas, não entrou em conflito com o ministro.
- Me parece que o ministro tem mais apoio do PSDB do que do PT - diverte-se o economista-chefe da Liquidez, Marcelo Voss.
Mesmo assim, de acordo com o economista, a intervenção em defesa do ministro pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é fato a ser contabilizado em seu favor.
- Foi um elogio aberto ao ministro. Logo do Mercadante, que seria o principal interessado na sua saída - ponderou Voss.
Para o economista-chefe do banco West LB, Adauto Lima, o debate em torno da economia ajudou o ministro, mas ainda não afasta a saída de Palocci da Fazenda.
- A situação dele ainda é complicada. Há uma investigação em curso que pode trazer novas complicações. Além disso, as críticas da ministra Dilma (Rousseff, chefe da Casa Civil) ainda não se sabe de onde vieram, se foi do PT ou do governo. O embate permanece - analisa Lima.
Vieira ressalta que ainda há um fato que pode mexer com os mercados: a possibilidade de o ministro depor na CPI dos Bingos.
- O presidente também não ajudou muito pela manhã. Em seu discurso, ele elogiou a política econômica e não o ministro Palocci - avaliou Vieira, referindo-se ao pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília.
- As denúncias estão surgindo na imprensa. Sua permanência vai depender da aparição de novos fatos - afirma o gestor de câmbio da Mellon Global Asset do Brasil, Carlos Olinto.