Título: Os econômicos elogios de Lula
Autor: Daniel Pereira, Karla Correia e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/11/2005, País, p. A3

Um dia após o depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rompeu a barreira do silêncio palaciano em torno do ministro. Ainda bastante econômico nas palavras, Lula avaliou bem o desempenho de Palocci na comissão. Mas se esquivou de dizer se ele ainda é o homem forte de seu governo. ¿Toda vez que vocês criam um homem forte em um dia, já no outro vocês querem derrubá-lo ¿ disse o presidente . Diante da insistência por uma avaliação sobre o depoimento de Palocci, Lula foi enfático.

¿ Foi bem, foi bem, foi bem. Eu não consegui assistir (o depoimento) porque estava trabalhando aqui. Mas, de qualquer forma, pelo que eu vi que vocês escreveram, ele foi muito bem ¿ comentou.

Segundo relato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que almoçou com Lula no Palácio, o presidente teria assistido parte do depoimento, que terminou de madrugada.

Mais cedo, o presidente foi cobrado por ministros do núcleo político do governo: os principais auxiliares queriam uma conduta mais incisiva na defesa de Palocci, durante reunião da Coordenação Política no Palácio do Planalto. O próprio ministro da Fazenda participou da conversa e ouviu do presidente indicações de que iria acatar a sugestão de seu gabinete.

O esperado pronunciamento de apoio ao titular da Fazenda ainda não aconteceu. Os elogios, durante a solenidade, ficaram mesmo para a a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Lula parabenizou pela condução do programa de biodiesel do governo, quando ainda comandava a pasta de Minas e Energia.

Agora, a expectativa é que Lula espere a situação se acalmar para fazer a defesa de Palocci. O que deve acontecer na próxima segunda-feira, durante cerimônia de sanção da medida provisória 255, que incorporou uma fatia da MP do

Bem. O assunto deve ser também a tônica da entrevista que o presidente concede hoje a nove emissoras de rádio.

Parlamentares da oposição voltaram a defender ontem a convocação do ministro da Fazenda pela CPI dos Bingos, que votará requerimento nesse sentido na próxima terça-feira. A idéia contou também com o apoio de petistas, como Ideli Salvatti (SC) e Ana Júlia Carepa (PA).

A manifestação das duas senadoras desagradou a Palocci, que avalia ter recuperado fôlego, ao menos em parte, para continuar à frente da equipe econômica.

A avaliação do Planalto, no entanto é que o ministro reúne totais condições de repetir a dose na CPI dos Bingos, na qual será confrontado com denúncias que o envolvem em desvios de verbas para angariar recursos para o PT. Tais denúncias não foram abordadas na CAE por opção da oposição, que adotou a estratégia para não ¿esvaziar¿ as comissões parlamentares de inquérito em funcionamento.

Segundo o governo, uma boa performance de Palocci na CPI dos Bingos afastará de vez a possibilidade de o ministro deixar o comando da Fazenda.

Palocci estaria assim seguro no cargo pelo menos enquanto não aparecem provas ou novas denúncias de corrupção em sua gestão em Ribeirão Preto ou de irregularidades na campanha de Lula à Presidência da República em 2002.

Ontem, os oposicionistas, assim como os governistas, cantavam vitória ao analisar o desempenho de Palocci. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, por exemplo, comemorou o fato de o ministro da Fazenda ter rebatido a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com quem trava embate sobre ajustes na política econômica. Além disso, o líder tucano ressaltou o fato de Palocci ter declarado publicamente que está à disposição das CPIs, até porque não se considera um cidadão ¿acima de qualquer suspeita¿.