Título: Um festival de negativas na CPI dos Bingos
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 18/11/2005, País, p. A5

Em dia de trabalho voltado ao caso Celso Daniel, a CPI dos Bingos colheu ontem depoimentos que rechaçaram a tese de que o assassinato do ex-prefeito de Santo André foi um crime político. O ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André Klinger de Oliveira Souza e o empresário do setor de Transportes Ronan Maria Pinto afirmaram que não existiu um esquema de corrupção na cidade do ABC paulista para abastecer um suposto caixa 2 do PT.

- Entendo o inconformismo dos irmãos de Celso Daniel. É natural eles não aceitarem que a morte de um ente querido foi crime comum - disse Klinger.

O ex-secretário saiu em defesa do chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, que também atuou na secretaria de Santo André. Em depoimento à CPI dos Bingos, os irmãos de Celso Daniel afirmaram que Carvalho revelou, após a morte do ex-prefeito, em 2002, que um esquema de corrupção instalado na cidade abastecia um caixa 2 para financiar as campanhas eleitorais do PT.

Klinger disse não achar ''crível'' essa história, porque Carvalho não conhecia direito os irmãos de Celso Daniel e mantém um compromisso muito grande com o PT. Ele classificou também de fantasiosa a versão de que estão relacionadas as sete mortes de pessoas que supostamente teriam informações a revelar sobre o assassinato de Celso Daniel. Para ele, houve coincidência e algumas dessas pessoas nem teriam dados relevantes a tornar público.

Ronan Maria Pinto, empresário que detém empresas de comunicação, coleta de lixo e transportes, também foi ouvido para prestar esclarecimento no caso Santo André. Ele afirmou que nunca nenhuma autoridade da prefeitura de Santo André lhe cobrou propina. E alegou que foi envolvido nesse escândalo por concorrentes que querem prejudicar seus negócios.

- Estou assombrado com tudo o que dizem a meu respeito. São ilações - negou Ronan.

O empresário manteve relações comerciais com Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, e se disse amigo de Klinger. Sombra é acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Celso Daniel. Ronan chorou quando recebeu desagravo do senador Valmir Amaral (PTB-DF). O parlamentar, que não é integrante da CPI dos Bingos, pediu a palavra e apoiou o empresário, a quem afirmou ser amigo de vários anos. Ele não soube explicar porque seus negócios diminuíram após a morte do ex-prefeito, suspeita levantada pelo presidente da comissão, senador Efraim Moraes (PFL-PB).

-Perdi o interesse desses negócios - resumiu.

Alguma dessas parcerias que acabaram foram sociedades com Sombra e projetos em conjunto com a empresa uruguaia Roanoake. Ronan negou que tenha remetido dinheiro para o exterior. No entanto, o promotor público de Santo André Roberto Wider Filho, que estava presente ao depoimento, afirmou que há suspeitas de que essa offshore esteja relacionada a casos de remessas de recursos para fora do Brasil.

O promotor afirmou ainda que há uma novidade revelada pelo empresário: Ronan disse que passou a noite do crime em Campinas, acompanhado por uma ''amiga''. É a primeira vez que ele diz isso em público.