Título: A gasolina é nossa. E cara
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 10/11/2005, Economia & Negócios, p. A17
Com queda do dólar e do barril do petróleo, combustível já custa mais para os brasileiros do que para os americanos
A gasolina e o óleo diesel estão, desde o dia 25 de outubro, mais baratos no exterior do que no Brasil, o que viabiliza, pelo menos do ponto de vista matemático, as importações desses derivados. Segundo alguns dos principais analistas do setor de energia, a valorização acentuada do real frente ao dólar, conjugada a fatores como a queda da cotação internacional do barril de petróleo, tornou os preços da gasolina produzida pela Petrobras entre 16% e 27% mais caros que nos postos americanos. A defasagem no diesel varia de 1% a 4%, dependendo do analista consultado. Ontem, o dólar prosseguiu em queda frente ao real e fechou a R$ 2,179, com desvalorização de 0,73%. Ao mesmo tempo, o petróleo do tipo WTI, referência no mercado americano, caiu 1,37%, para US$ 58,89. Já o do tipo Brent, de Londres, recuou 1,61%, para R$ 56,88.
O economista Edmar de Almeida, do Grupo de Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que, levando-se em consideração o preço dos derivados sem impostos, a gasolina no mercado americano é vendida, no momento, a US$ 0,39 por litro, enquanto a produzida pela Petrobras nas refinarias custa US$ 0,46 - o que deixa o produto da Petrobras praticamente 16% mais caro. Em relação ao diesel, Almeida adverte que a defasagem chega a mais ou menos 4%. Enquanto o derivado americano está cotado, hoje, a US$ 0,50 por litro, o da Petrobras sai da refinaria a US$ 0,52.
O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), contabiliza, por sua vez, defasagem de até 27% no preço da gasolina da Petrobras em comparação com a similar do Golfo do México. A do diesel, no entanto, é de apenas 1%, na avaliação de Pires. A menor defasagem no óleo se deve ao fato de a Petrobras ainda importar esse derivado. O mesmo não se aplica à gasolina, que garante à estatal a condição de exportadora líquida.
Embora matematicamente a diferença já indique espaço para redução dos preços no varejo, tanto Almeida quanto Pires dizem não acreditar em repasse no curto prazo.
- A Petrobras deverá segurar o repasse, agora, para compensar o período de alta das cotações do barril de petróleo, quando ela deixou de reajustar para cima os preços. A empresa deverá, com isso, compensar, pelo menos parcialmente, as perdas de receita desse período - avalia o consultor do CBIE, que prevê queda só em 2006.
Para o economista da UFRJ, a demora no repasse para o consumidor demonstra que, na prática, a Petrobras não segue uma política de preços alinhada ao mercado internacional.
- Esse alinhamento de preços é fictício - critica