Título: Importação tira força da indústria
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 10/11/2005, Economia & Negócios, p. A19

IBGE admite que dólar barato incentivou compras e derrubou produção do setor em 2% em setembro

Impulsionada pela queda do dólar, a invasão de produtos asiáticos derrubou a indústria brasileira em uma época em que a expectativa de aquecimento para o Natal. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem queda de 2% na produção entre agosto e setembro, surpreendendo até os mais pessimistas. O corte atingiu em cheio a fabricação de bens duráveis que, abalados pelos importados e com o crédito mais contido, amargaram retração de 9%. O dólar fechou ontem cotado a R$ 2,17.

- O setor, mais especificamente os segmentos de eletrodomésticos e eletrônicos, sofre com o crescimento forte das importações no fim do ano e isso passa pela invasão dos asiáticos ajudada pela queda do dólar - avalia Isabella Nunes Pereira, economista do Departamento de Indústria do IBGE.

Segundo ela, as importações de produtos manufaturados dispararam 43% em outubro, num ritmo muito acima dos 20,3% acumulados no ano.

- Celulares e automóveis não sofreram tanto impacto, porque são produtos de exportação. A linha branca de eletrodomésticos deve estar estocada - acrescenta.

Dados do IBGE descartam esperança de recuperação. Depois de cinco meses de crescimento, o índice que mede a tendência do comportamento da indústria recuou. E, pior, a tendência negativa se espalhou por todo o setor. Houve queda de 1,1% no trimestre encerrado em setembro em comparação aos três meses encerrados em agosto. É assim que o instituto calcula o indicador de média móvel trimestral, usado para apontar o que pode acontecer nos próximos meses.

O diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, também não demonstra otimismo para o Natal. Ele avalia que o crédito tende a cair mesmo com os juros cadentes porque as pessoas já estão endividadas demais. E também culpa o câmbio como maior vilão do corte na indústria. De fato, sondagens de institutos de pesquisa mostram cautela dos consumidores.

- Essa queda tem relação com o câmbio, que está facilitando muito as importações e dificultando as exportações. As indústrias de vestuário, automóveis e calçados são as mais afetadas - comenta Almeida.

Nem a proximidade com o Natal impediu que 15 dos 23 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE reduzissem a produção. ''Os principais impactos negativos foram de fumo (-37,7%), máquinas e equipamentos (-6,0%), refino de petróleo e produção de álcool (-3,8%) e veículos automotores (-2,4%)'', assinala a Pesquisa Industrial Mensal.

O arrefecimento da indústria aparece em outras comparações: em relação a setembro de 2004 houve crescimento de 0,2%, o menor resultado desde setembro de 2003 neste tipo de comparação. O resultado levou à redução do crescimento do setor no terceiro trimestre, para 1,5% - no segundo, a produção crescera 2,2%.