Título: Lula negocia subir em até três palanques no Rio
Autor: Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2005, País, p. A2

O petista Vladimir Palmeira terá que dividir apoio do presidente com o PMDB e PMR

Quando se trata de reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os fins vão justificar os meios no PT. No centro de escândalos como o uso de caixa 2 e o mensalão, o partido trabalha para ampliar o leque de alianças para as eleições 2006. Mesmo tendo candidato próprio ao governo do Rio, Vladimir Palmeira, não haverá constrangimento da direção nacional da legenda, nem do presidente, em marcar presença nos palanques de Sérgio Cabral Filho e de Marcelo Crivella no estado. O mais curioso é que o próprio Vladimir diz que aceita a concorrência.

A manobra pretende compensar a má avaliação do governo Lula no estado do Rio e ganhar espaço no terceiro colégio eleitoral do país, onde predominam fortes críticos ao Planalto. Mas fará o PT enfrentar o trauma da intervenção da direção nacional nas eleições de 1998 no Rio, quando o próprio Vladimir Palmeira foi preterido pela aliança com o hoje ferrenho adversário do Planalto e pré-candidato a presidente, o ex-governador e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho.

O objetivo é tornar as relações entre o PT e a Igreja Universal mais estreitas, ao trabalhar por coalizão com o recém-fundado PMR. O acordo seria o apoio à candidatura do atual vice-presidente, José Alencar, ao governo de Minas Gerais e a garantia de um palanque ao lado do senador Marcelo Crivella.

Esta hipótese ainda é tratada, dentro do partido, discretamente. Na primeira eleição de Lula, em 2002, a aliança tinha sido feita, através do PL e do deputado Bispo Rodrigues, no Rio. O parlamentar, entretanto, acabou renunciando ao mandato após denúncias de ter recebido mensalão.

As negociações com o PMDB, ao contrário, são discutidas amplamente e a possibilidade de aliança com o partido de Garotinho e Sérgio Cabral Filho, cogitada.

- Nós trabalhamos para impedir o crescimento da direita, representada pelo PFL e pelo PSDB. No Rio, temos que construir um ambiente em que não haja fissura no relacionamento entre o PT e o PMDB. Nós reconhecemos os problemas regionais, e por isso mesmo, haverá duas candidaturas - afirmou o vereador Edson Santos, membro do diretório nacional petista, referindo-se ao nome do peemedebista Sérgio Cabral e de Vladimir Palmeira.

O PT conta com a possibilidade de o PMDB apoiar a reeleição do presidente Lula e, com isso, indicar o vice. Assim, pela verticalização, o partido estaria impedido de apoiar legendas que não estejam previstas nas coligações firmadas nacionalmente, mas permitiria lançar candidatos próprios nos estados. O PMDB decide a questão dia 5 de março, na convenção na qual Garotinho já está inscrito como pré-candidato ao Planalto.

A regra vai embaralhar as eleições estaduais do Rio e criar um problema com o grupo de Garotinho, com o qual o PT é rompido desde 1999.

- A aliança com o Garotinho não está em cogitação. O PMDB tem problema conosco por causa dele. O Sérgio Cabral Filho é aliado do Garotinho e vai ficar uma situação constrangedora - admite o presidente regional do PT do Rio, Alberto Cantalice.

- O objetivo maior é reeleger Lula e não deixaremos que brigas regionais prejudiquem esse projeto. Se for necessário, onde não houver unidade, faremos com que Lula possa subir em mais de um palanque - completa o futuro secretário de Relações Institucionais do PT do Rio, Samuel Maia, que tomará posse dia 26.