Título: Lula, enfim, se assume candidato
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2005, País, p. A3

Em entrevista a emissoras de rádio ontem no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, num lapso admitido por ele mesmo, que será candidato à reeleição no ano que vem. -Vou, sim, disputar as eleições.

Colocando-se como a figura ''mais democrática'' do país, o presidente aproveitou a entrevista para finalmente sinalizar seu apoio público ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), alvo de denúncias de corrupção por ex-aliados e de pressões, vindas principalmente da colega Dilma Rousseff (Casa Civil), por mudanças nos rumos da política econômica.

-Se vocês querem que eu diga, eu vou repetir aqui: o Palocci é e vai continuar sendo o meu ministro da Fazenda - afirmou

O apoio explícito a Palocci, aguardado desde a semana passada, incluiu uma ampla defesa do modelo econômico, chamado por Lula de exitoso, e a afirmação de que o ministro permanecerá como titular da Fazenda.

-O papel de Antonio Palocci é tentar segurar o máximo (a liberação de recursos) porque ele sabe que, se não segurar, a vaca vai para o brejo - disse.

Lula, porém, desenvolveu ao longo de uma hora e 45 minutos a tática de equilibrar-se entre Palocci e Dilma, ora elogiando o ministro, ora defendendo a ministra. Ao mesmo tempo em que fez os primeiros elogios contundentes ao titular da Fazenda desde o mais recente ciclo da crise, ficou do lado de Dilma na questão do ajuste fiscal. Como ele mesmo disse na entrevista, sua tática é ''tensionar'' seus auxiliares.

Ao comentar as divergências entre os dois, o presidente disse que elas surgiram ''por conta de uma tese, que não é política de governo'' - o mesmo argumento usado pela ministra da Casa Civil quando desancou o plano de ajuste fiscal de longo prazo estudado pela Fazenda e pelo Planejamento. Segundo Lula, o governo irá ''consertar para melhor a política econômica''.

Ontem o presidente respondeu a perguntas de nove representantes de emissoras de rádios de oito Estados do país. Foi a primeira de uma série de três entrevistas que Lula dará nas próximas duas semanas a rádios de todas as regiões do país.

Na entrevista, voltou a alfinetar setores da imprensa, atacou o viés político das CPIs, disse não acreditar no mensalão, ironizou o atual pensamento ''progressista'' de FH e defendeu o deputado e ex-ministro José Dirceu da cassação. Ainda disse que não ia responder a quem ameaçou surrá-lo, porque isso é ''baixar o nível''. (F.P.)