Título: Real forte abala um terço da indústria
Autor: Cristina Borges Guimarães
Fonte: Jornal do Brasil, 16/11/2005, Economia & Negócios, p. A20

De 27 segmentos analisados pelo Iedi, nove apresentaram retração. Desvalorização do dólar e juros altos são principais causas

SÃO PAULO - O crescimento da produção industrial em 2005 deve ficar em 2,5%, podendo atingir 3%, segundo cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O percentual será muito inferior à expansão de 8,4% em 2004, em boa parte porque a valorização do real frente ao dólar e os juros elevados estão afetando uma parcela significativa do setor.

De 27 segmentos analisados, 16 crescerão menos do que a média ou terão retração, com percentuais que variam de 1,5% positivo a até 4% negativos. Um terço dos segmentos está no grupo dos que vão andar para trás.

Em 2004, a expansão foi explicada pelo ''desrepresamento'' da atividade industrial após um triênio - 2001 a 2003 - de magros resultados.

- O crescimento da indústria em 2005 está concentrado em poucas áreas, como celular, veículos e indústria farmacêutica. Em 2006, a desigualdade de desempenho deve se manter - diz o economista Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.

A análise antecipada dos resultados setoriais da indústria no ano foi feita com base nos dados de produção industrial fechados para o terceiro trimestre de 2005 e nas projeções do instituto para o crescimento dos segmentos para o ano todo.

É possível identificar marcantes diferenças no desempenho setorial da indústria. Os 27 setores para os quais o Iedi estimou o crescimento de 2005 foram classificados em quatro grupos de acordo com a projeção de crescimento para 2005.

O primeiro grupo é formado por atividades em que houve um ''grande dinamismo'' em 2005, semelhante ou superior ao de 2004. Trata-se de apenas cinco setores: máquinas para escritório e equipamentos de informática; edição, impressão e reprodução de gravações; farmacêutica; material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações e diversos. A indústria farmacêutica, por exemplo, cresceu só 1% em 2004, mas deve ampliar sua produção em 13,6% no corrente ano.

Um outro grupo de seis segmentos - veículos automotores; outros equipamentos de transporte; perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza; máquinas, aparelhos e materiais elétricos; produtos de metal, fora máquinas e equipamentos e bebidas - cresceu a uma ''boa taxa'', ou seja, entre 3% e 6%, com média próxima a 5% que, segundo o Iedi, poderia ter sido geral para os setores industriais brasileiros em 2005, não fossem as políticas restritivas à produção e ao investimento adotadas ao longo deste ano.

Os dois próximos grupos não terão o que festejar em 2005, crescendo abaixo da média da indústria. Ou o crescimento será ''muito baixo'', entre 0,5% e 2,5%; ou a produção deve cair entre 1,5% e 4%. O grupo com crescimento muito baixo é formado por sete setores: minerais não-metálicos; celulose e papel; refino de petróleo e álcool; alimentos; mobiliário; máquinas e equipamentos; e fumo. O outro grupo é composto por nove segmentos, ou um terço do total de 27 setores analisados: borracha e plástico; outros produtos químicos; têxtil; metalurgia básica; vestuário e acessórios; madeira; calçados e artigos de couro.

Quase todos os setores apontados pelo Iedi como em retração foram muito afetados pela valorização do real e pela intensa concorrência de produtos asiáticos ao longo do ano e não devem reverter a tendência de queda no quarto trimestre. São setores em geral bastante empregadores e com presença em praticamente todas as regiões.