Título: ''Nada é mais conservador que o PT''
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2005, País, p. A5

O deputado Eduardo Paes (RJ) assume a Secretaria-geral do PSDB pregando a unidade como fator de equilíbrio partidário na disputa com o PT em 2006. Superadas as divergências entre o senador Tasso Jereissati (CE), novo comandante da legenda, e o prefeito de São Paulo, José Serra, o desafio do partido é se organizar para as eleições, com reforço da estrutura nos estados, além de apresentar uma nova agenda para o país, destaca. Avisa também que o governador de Minas, Aécio Neves, não pode ser considerado um nome fora do páreo como candidato tucano à Presidência.

Atribui-se a derrota do PSDB em 2002 à disputa interna entre Tasso Jereissati e José Serra. Hoje, a eleição de Tasso unifica o partido? ¿ Não tenho dúvidas de que sim. A eleição do Tasso é conseqüência de um processo de aprendizado do PSDB. Esse processo de aprendizado começa com a derrota do Serra. Acho que a eleição do Tasso significa a possibilidade de o partido caminhar junto para 2006. O contraponto do conflito em 2002 é agora o ponto de convergência em 2006.

Na opinião do senhor, qual é o principal desafio do partido com a eleição de Tasso ? ¿ Se organizar para as eleições, estruturando-se em todos os estados, e constituir uma nova agenda para o País a fim de estabelecer que tipo de discurso, que proposta nova a gente pode apresentar para 2006 e como a gente pode se diferenciar do PSDB que foi governo, e principalmente do PT que no governo hoje tenta nos associar ao caos que eles implantaram no país.

O que se diz no PSDB é que o senhor, que é mais ligado ao Serra, foi colocado estrategicamente na Secretaria Geral como um contraponto a Tasso. ¿ É uma visão completamente equivocada. A minha entrada e a do Tasso significa, acima de tudo, a síntese da união em 2006. O Tasso talvez tenha sido a figura que mais representou no contraponto ao Serra o conflito que se passou em 2002 no partido e agora ele consegue, numa posição completamente diferente daquela de 2002, mostrar essa união partidária.

Hoje, a disputa no PSDB pela candidatura à Presidência parece polarizada entre Alckmin e Serra. A candidatura Aécio Neves pode ser descartada? ¿ O Aécio é um nome mais do que presente nesse processo. Eu diria que o PSDB hoje tem três candidatos. E tem três porque o Tasso já disse que não quer, porque senão seriam quatro. O Aécio, apesar de menos citado, é um nome forte nesse processo, pela sua capacidade de agregar, pelo que significa Minas Gerais, até pela sua juventude também, pela sua história e origem.

O fato de Tasso Jereissati ter tido problemas pessoais com o Serra no passado, pode favorecer Alckmin nessa disputa? Acho que o Tasso é um sujeito que já mostrou ao longo da vida pública ter uma enorme grandeza. Não se trata aqui de uma coisa de relação pessoal, de dois amigos que vão a um bar tomar uma cerveja juntos. É uma questão de homens públicos de grande capacidade, com muita história, realização, e que vão comandar um processo de escolha do melhor para governar o país.

Essa disputa entre três nomes fortes pode atrapalhar o partido em 2006 ? ¿ Acho que o PSDB tem a exata noção, neste momento, da sua responsabilidade e do peso que tem nas costas a partir da eleição de 2006. O PSDB, como partido responsável, como partido de propostas, não tem o direito de conflitar, tem sim é que apresentar o novo.

O que seria o novo? ¿ O novo é uma forma diferente de fazer política. Se o governo hoje tem a possibilidade de se desestabilizar, ela é fruto das ações deles, não dos ataques ou da acusação da oposição. O PSDB se esforça na investigação. Então o novo é isso, é uma forma diferente de fazer política.

Na sua opinião, qual é o perfil que deve ter o candidato do PSDB em 2006? ¿ Ele pode ser paulista ou mineiro. Se for paulista pode ter calvície ou início de calvície, se for mineiro, é cabeludo e jovem.

Como e quando deve ser definido esse nome? ¿ No mês de março, até porque os três nomes que dispomos hoje ocupam funções executivas.

Quais são os critérios que vão nortear essa escolha? ¿ Possibilidade de vitória, capacidade de articulação, capacidade de construir alianças. Acho que as qualidades inerentes, os três têm.

Pesquisa vai pesar. Certamente. Mas não no frio da pesquisa. A expectativa da possibilidade de crescimento, a expectativa de ampliar a sua ação, todos esses elementos influenciam.

Qual o papel que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deve cumprir no processo eleitoral? ¿ Sabíamos que o governo dele iria ser reconhecido ao longo da história. Acho que esse reconhecimento está vindo mais cedo até do que se esperava. Esse contraponto entre a figura do Lula e a figura do Fernando Henrique só reforça a tese de que ele é um ator fundamental na definição desse espaço, desse caminho, dessa construção.

O que deve influenciar a política de alianças do partido para 2006? ¿ A gente precisa juntar as forças políticas que têm compromissos muito claros com uma nova forma de fazer política no Brasil. Temos aí um foco claro de ação com o PFL, sempre um parceiro preferencial nesse processo. Era bom que o PMDB pudesse vir nisso, que não é o PMDB que está em qualquer governo, mas o PMDB tão valoroso que a gente conhece. O PPS e o PDT também. O PPS, pela sua capacidade já antiga de reavaliar as suas posturas e crenças. Acho que o PSDB e o PPS talvez sejam os dois grandes exemplos de partidos progressistas modernos, que o PT até hoje não conseguiu entender. O PT se acha um partido de esquerda, se acha um partido progressista, mas não há nada mais conservador do que o PT.