Título: Zarqawi mostra quem dá as cartas
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2005, Internacional, p. A8

O chefe da Al Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, mostrou ontem quem dá as cartas na região. Depois de coordenar uma série de atentados no país, mostrou força ao ameaçar o rei Abdullah, da Jordânia, impondo condições para cessar os atentados contra sua terra natal.

Dando seqüência à sua campanha particular contra os xiitas, Zarqawi atacou duas mesquitas no momento da oração de sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos. Setenta e cinco pessoas morreram no local e 90 ficaram feridas. Os templos Sheik Murad e a Grande Mesquita, que ficaram destruídos, são localizados na cidade curda de Khaneqin, na até então tranqüila fronteira com o Irã, 170 km a Nordeste de Bagdá.

Omar Saleh, de 73 anos, disse que estava ajoelhado, rezando, quando a bomba explodiu:

- O teto caiu sobre a gente e o lugar ficou cheio de mortos - contou, no hospital.

Horas antes, carros-bomba explodiram perto do hotel Hamra, que costuma hospedar jornalistas estrangeiros, e do centro de detenção de Jadriyah, no Ministério do Interior, local onde funcionava a cela clandestina na qual 170 detentos sunitas eram torturados. Pelo menos seis pessoas morreram, entre elas uma mulher e duas crianças. As explosões foram ouvidas a quilômetros de distância, e uma enorme nuvem de fumaça pôde ser vista de vários pontos de Bagdá.

As bombas abriram um buraco na barreira de concreto que protegia o Hamra. O mesmo método havia sido utilizado em 24 de outubro, quando dois carros-bombas foram detonados próximos aos hotéis Palestina e Sheraton.

Segundo o jornalista Mike Boettcher, hospedado no Hamra, uma van branca se jogou contra o muro de proteção, às 8h, com a intenção de abrir caminho para um caminhão que trazia mais explosivos.

- Fomos arrancados da cama pela explosão - contou. - O buraco era pequeno. Não tinha espaço para o outro veículo, que explodiu do lado de fora da área de proteção. Causou maior destruição na vizinhança do hotel.

O jornalista iraquiano Sa'ad al-Izzi também estava no hotel:

- Acordei com um barulho enorme de vidros quebrando - afirmou.

Apesar de Zarqawi não ter assumido a autoria, o Ministério do Interior acredita que o líder terrorista está por trás dos atentados. As operações têm a assinatura do jordaniano.

Trata-se de um dos ataques contra xiitas mais violentos desde 2003. A ação nas mesquitas atingiu principalmente curdos. Os homens-bomba estavam misturados aos fiéis. O presidente da região autônoma curda do Iraque, Massud Barzani, afirmou que se a guerra civil for deflagrada no país, como o cenário indica, sua comunidade não terá outra opção senão proclamar sua independência.

Em mensagem de áudio atribuída a Zarqawi, divulgada num site islâmico, o terrorista afirmou que os ataques contra hotéis em Amã, na semana passada, não tinham a intenção de matar muçulmanos que participavam de um casamento no Radisson Hotel, mas oficiais das inteligências americana, israelense e jordaniana reunidos num salão ao lado do local. Iraquianos suicidas mataram 57 pessoas, entre elas convidados da festa, despertando a revolta dos jordanianos.

''Pedimos a Deus para proteger os muçulmanos, que não pretendíamos atacar, mesmo que eles estivessem num centro da imoralidade'', diz o terrorista na gravação.

No comunicado, Zarqawi também avisa aos jordanianos que planeja mais ataques e ameaça matar o rei Abdullah, aliado dos Estados Unidos.

''Mantenham-se afastados das bases americanas, dos hotéis, dos lugares turísticos e das embaixadas dos que apoiaram a invasão do Iraque'', afirmou.

Para Abdullah, o recado foi o seguinte: ''Tua estrela está declinando. Não escaparás de teu destino, descendente de traidores. Somos capazes de encontrar tua cabeça e cortá-la''.

O número dois da Al Qaeda impôs condições para cessar os ataques à Jordânia, como a saída dos militares americanos e britânicos do território jordaniano, o fechamento das ''prisões secretas'' e das embaixadas dos EUA e de Israel em Amã. Na gravação, Zarqawi diz a seus compatriotas que os membros da Al Qaeda ''os amam mais que a si mesmos'', e por isso os alertou sobre os locais onde podem ocorrer atentados.

A população parece não ter gostado do comunicado e saiu às ruas novamente para protestar contra os ataques aos hotéis. Cerca de 25 mil pessoas, de acordo com números oficiais, repudiaram um terrorismo que ''vai contra as doutrinas do islã''. Membros do governo da Jordânia e da oposição participaram da marcha.