Título: Mobilização contra dengue tipo 4
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2005, Rio, p. A13

Depois das epidemias de dengue tipos 1, 2 e 3 que infestaram a cidade a partir da década de 80, a principal preocupação do poder público no Dia Nacional de Mobilização Contra a Dengue, hoje, no Dia D contra o mosquito, é a chegada de uma nova variação do vírus no próximo verão - a dengue do tipo 4. Apesar de ainda não identificado no Brasil, especialistas afirmam que há risco de o sorotipo aparecer justamente no período em que são esperados mais de um milhão de turistas na cidade. O vírus tipo 4 é transmitido da mesma forma que os tipos 1, 2 e 3, pelo mosquito Aedes aegypti. O epidemiologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Roberto Medronho lembra que o sorotipo já está em circulação na América Central, principalmente nas Guianas e parte da Venezuela. Como o país tem grande intercâmbio de passageiros com o Brasil, o risco de introdução do vírus aumenta.

- A desvantagem da globalização no controle de doenças infecto-contagiosas é o trânsito cada vez maior de pessoas entre os países, além da ocupação de lugares antes selvagens. Por isso toda essa preocupação com a gripe aviária - exemplifica o especialista.

O pesquisador, no entanto, não acredita que o verão de 2006 seja o ano de uma epidemia do tipo 4. Para ele, o risco será maior em 2007.

- Apesar de os níveis de infestação do mosquito estarem preocupantes, não há tempo para um epidemia do vírus tipo 4 ainda neste verão, se a variação chegar agora. A explosão no número de casos viria no próximo - explica o pesquisador.

O coordenador da campanha contra a dengue da Secretaria Estadual de Saúde, Clodoaldo Novaes, explica que o vírus não é mais grave do que os outros, mas que representa perigo porque a população não está imunizada contra ele. De acordo com Clodoaldo, já existe uma equipe de técnicos do laboratório do Instituto Estadual Noel Nutels para fazer testes de classificação dos vírus nas fronteiras do país.

- É inevitável. A entrada do tipo 4 vai acontecer. Ainda existem muitos mosquitos circulando. Mas assim que o novo sorotipo entrar no país, os técnicos farão a identificação instantânea, o que facilita o controle - garante Clodoaldo.

Além do risco da introdução do novo tipo de vírus, o coordenador alerta para a possibilidade de uma nova epidemia do tipo 2, principalmente na Baixada Fluminense. Os municípios de Japeri, Nova Iguaçu, São João de Meriti e Duque de Caxias não foram atingidos em 1992 pela epidemia do tipo 2, logo, a população não está imune ao vírus, o que aumenta o risco de epidemia.

- Amanhã (hoje) 13 mil residências da Baixada receberão a visita dos agentes estaduais de saúde, que vão explicar de que maneira as pessoas podem evitar a infestação - informou.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, não há motivo para pânico. Assistente da superintendência de vigilância em saúde da secretaria, a médica Mônica Vieira Coelho garante que todo o trabalho de prevenção está sendo realizado. De acordo com ela, a participação da população é fundamental para evitar tanto os macrofocos - terrenos baldios, piscinas, caixas d'água - quanto os microfocos - vasos de plantas, bromélias, garrafas vazias.

- Trabalhamos com o risco de epidemia. Mantendo este trabalho de prevenção o risco diminui - explicou a médica.

A programação das secretarias municipais e estaduais para hoje, Dia Nacional de Mobilização Contra a Dengue, o chamado ''Dia D'' , é extensa: mais de cinco mil agentes das secretarias municipal e estadual de saúde estarão nas ruas para esclarecer a população sobre a importância da prevenção. Serão distribuídos 1,5 milhão de folhetos explicativos sobre a doença, para evitar uma epidemia como a ocorrida em 2002, quando foram registrados 138.027 casos de dengue. Uma das principais dificuldades dos agentes de saúde é a resistência de alguns moradores, que insistem em não recebê-los.

Na Rocinha as atividades começam por volta das 9h, quando 80 agentes da secretaria estadual de Saúde vão eliminar mosquitos, larvas e focos, além de recolher lixo e utensílios que acumulam água, onde são depositados os ovos do mosquito. Cerca de duas mil residências receberão a visita dos técnicos. Em todo o estado, serão distribuídos um milhão de folhetos e 300 mil cartazes informativos.

De janeiro até 5 de outubro foram registrados 1592 casos, sendo oito do tipo hemorrágico, e nenhuma vítima fatal. No ano passado foram 2695 casos da doença, quatro do tipo hemorrágico, e não houve morte. Em 2002, com a introdução do vírus tipo 3, ocorreu uma epidemia. Naquele ano foram registrados 288245 casos, com 91 mortes.