Título: Riqueza para poucos municípios
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2005, Economia & Negócios, p. A19
O interior brasileiro tomou espaço das capitais e já representa metade do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país). Mas a força que vem dos pequenos municípios está longe de ser uniforme. Ao mesmo tempo em que surgem cidades emergentes - graças ao petróleo e ao plantio da soja, além dos incentivos fiscais - cresce a dependência das cidades mais pobres nas transferências governamentais, o que aponta esvaziamento econômico. É o que mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou ontem o PIB dos municípios com dados da série histórica de 1999 a 2003.
- O deslocamento do PIB das capitais para o interior, por enquanto, está sendo abocanhado pelos maiores municípios - afirma a coordenadora da pesquisa do IBGE, Sheila Zani.
Em cinco anos, saltou de 350 para 508 o total de municípios com no mínimo metade do PIB atrelada a transferências governamentais, segundo levantamento realizado pela economista. A cada ano, o número cresce: em 2000 eram 360; em 2001, 416; em 2002, 419 cidades. Sinal de que os mais pobres estão produzindo ainda menos riquezas, conforme indica o IBGE.
- Quanto maior a participação da transferência governamental, significa que menos riquezas eles possuem. Pode ser que estejam ficando mais pobres - reitera Sheila.
Na Paraíba e no Piauí, quase metade dos municípios têm a maior parte do PIB ligada a transferências governamentais. Na Paraíba, 96 cidades estão nesta situação e 93 no Piauí.
O processo de interiorização é uma tendência que está distribuindo o PIB somente entre privilegiados. Em 1999, 1.283 cidades dividiam 1% do PIB. Em 2003, o número de cidades dividindo migalhas subiu para 1.289.
A participação das capitais nas riquezas do país PIB encolheu de 32% para 28% entre 1999 e 2003. Ganharam peso as cidades fora dos centros urbanos, com aumento de 46% para quase 49,7% do conjunto de riquezas.
- A exploração e produção de petróleo, a agropecuária, e os incentivos fiscais, que provocaram a ''interiorização'' de algumas empresas industriais, foram as principais influências - assinala a pesquisadora.
Entre as maiores cidades, o número de detentoras de um quarto do PIB passou de sete para dez. O ranking das líderes entre os municípios quase não teve alterações. Brasília, Manaus e Belo Horizonte, seguem, nesta ordem, depois de São Paulo e Rio. Campos dos Goytacazes (RJ) manteve o sexto lugar que conquistou em 2002, depois de ocupar a 17ª posição em 2001 e a 27ª em 1999. Guarulhos caiu do sétimo para o oitavo lugar e Curitiba, que no ano anterior ficou em oitavo, assumiu a sétima posição. Em seguida, Duque de Caxias e Porto Alegre integram a lista. Fortaleza ganhou duas posições no ranking das capitais, indo do 10º lugar, em 2002, para o 8º, em 2003, passando Recife e Salvador e detendo o maior PIB do Nordeste.