Título: Palocci tenta adiar depoimento
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, País, p. A3

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, recorreu ontem a interlocutores no PT e nos partidos de oposição a fim de garantir a realização apenas no ano que vem de seu depoimento à CPI dos Bingos sobre denúncias que o envolvem em irregularidades destinadas a levantar recursos para o caixa dois petista. Depois de troca de telefonemas com o ministro, líderes do PSDB e do PFL disseram que tentariam costurar um acordo para impedir a votação hoje do requerimento de convocação do ministro. Cientes de que a proposta tende a naufragar, até porque o ministro se disse à disposição das CPIs em reunião na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, na semana passada, líderes do PSDB e PFL admitem, como alternativa, operar para que Palocci preste esclarecimentos à CPI dos Bingos apenas em 2006. Se implantada, a manobra daria mais tempo ao titular da Fazenda para preparar sua defesa sobre as acusações, que, após os festejos da virada de ano, perderiam força.

O problema, para líderes de PSDB e PFL afinados com Palocci, é convencer as bases partidárias, que querem acirrar o confronto com o governo.

- Não será nada bom para a oposição bancar o papel de algoz do ministro da Fazenda - declara um tucano de vistosa plumagem.

De acordo com ele, o ideal é ouvir neste ano o máximo de ex-assessores de Palocci e empresários próximos a ele, de modo a garimpar informações que respaldem uma eventual inquirição do ministro, que ficaria mesmo para o ano que vem. Ex-líder do PT, o senador Tião Viana (AC) seguiu ontem a mesma linha. Ele disse não haver ''fatos relevantes'' a justificar a convocação de Palocci.

- Se o Ministério Público de São Paulo diz que não há elementos para pedir o indiciamento, se a Polícia Civil de São Paulo diz o mesmo, se os depoimentos prestados se mostram insustentáveis como prova, por que criar um constrangimento público? - questionou o senador.

Os senadores Efraim Morais (PFL-PB) e Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), respectivamente presidente e relator da CPI dos Bingos, garantiram que o requerimento de convocação será votado hoje. Alves Filho e o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), reconheceram a possibilidade de negociar a data da ida de Palocci à Casa.

- Tem de se criar o quadro de evidências para depois ouvi-lo - afirmou Agripino Maia.

Ontem, Palocci pediu ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), um diagnóstico sobre a sua situação. Ouviu que o quadro é ''grave'', mas não ''insustentável''. Eminências tucanas, como o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), estão fechados com o ministro da Fazenda no embate com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Além disso, temem a substituição de Palocci. O discurso oficial é de que, com a eventual troca, o governo entraria em uma fase perdulária, com impactos negativos para as contas públicas.

Nas conversas reservadas, há o receio também de que ajustes na política econômica, como uma queda mais acentuada da taxa de juros e o cumprimento à risca da meta de superávit primário, poderiam dar fôlego extra à campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A CPI dos Bingos prevê o indiciamento de mais de 10 pessoas, incluindo ex-assessores do atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Prefeitura de Ribeirão Preto e no Ministério da Fazenda.

Na lista de pessoas que deverão ser indiciadas pela CPI estão os ex-assessores Juscelino Dourado, Rogério Buratti e Vladimir Poletto, que não convenceu os parlamentares ao narrar o episódio do suposto financiamento cubando para a campanha presidencial de Lula.

*Colaborou Hugo Marques