Título: Uma defesa comedida
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, País, p. A3

Foi um pronunciamento menos efusivo do que se poderia se esperar. Mesmo assim, o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, durante a cerimônia de sanção da MP do Bem, foi a defesa mais contundente direcionada pelo Palácio do Planalto ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Lula minimizou a gravidade do embate entre o titular da Fazenda e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff e, além de reiterar sua disposição em manter a política econômica no formato atual, elogiou o trabalho de Palocci no ministério. - A economia brasileira vai continuar com a seriedade que veio até agora. O (Antonio) Palocci é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim. Do mesmo modo, a Dilma (Rousseff) é minha chefe da Casa Civil, o Nelson [Machado]é o ministro da Previdência. Eles foram escolhidos para fazer o que estão fazendo - disse o presidente.

Entretanto, Lula evitou fazer qualquer menção à manutenção de Palocci em seu cargo. Toda a ênfase do discurso improvisado foi em torno da manutenção da política econômica, independentemente de quem a conduza.

Lula afirmou também que considera normais e até desejáveis os embates travados dentro do governo entre monetaristas e desenvolvimentistas. De acordo com Lula, é desses debates que nascem as políticas públicas de sucesso do governo.

- No meu governo há espaço como nunca houve na República brasileira para que ministros possam ter pensamentos diferenciados, possam exercitar a vontade de fazer o debate. Mas existe um momento em que esse debate será transformado em política pública de governo - observou Lula.

Mesmo tecendo elogios a Palocci, o presidente fez questão de igualar a força do ministro da Fazenda aos seus colegas de Esplanada. Lula evitou qualquer menção às denúncias que pesam sobre o ministro e falou, nas entrelinhas, que Palocci poderá ser questionado por seus colegas sempre que julgarem necessário.

A linha adotada pelo presidente para defender, mas nem tanto, o ministro Antonio Palocci tem uma direção clara. Ela tenta transmitir ao mercado a mensagem de que não se renderá às pressões eleitorais para, em 2006, abrir os cofres, contrariando toda a política implementada por Palocci nos últimos três anos.