Título: Reforma política permitirá o resgate da dignidade
Autor: Juliana Rocha e Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, País, p. A4

Políticos, juristas, acadêmicos, empresários e representantes da sociedade civil debateram ontem alternativas de moralização da política como um caminho para melhorar a auto-estima da sociedade brasileira. Esta foi a discussão central do seminário ¿Resgatando a Dignidade: Ética, Estado e Sociedade¿, promovido pelo Jornal do Brasil, Casa Brasil, Gazeta Mercantil e pela revista Forbes. O seminário foi marcado por críticas aos episódios de corrupção envolvendo parlamentares, em sua maioria aliados do governo Lula. O antecessor, Fernando Henrique Cardoso, também não escapou: foi acusado de tentar barrar CPIs durante o seu mandato e de realizar privatizações usando dinheiro público, como o proveniente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A ética dos homens públicos foi alvo da artilharia dos próprios políticos presentes. A necessidade de reforma política que imponha a fidelidade partidária e o financiamento público de campanhas foram amplamente defendidos. O ex-presidente Itamar Franco destacou, na abertura do seminário, que o país vive uma de suas piores crises porque o Estado deixou de intervir na sociedade.

A certeza da impunidade no Brasil é o maior estímulo à falta de ética na vida pública, destacou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) acrescentou que a crise chegou ao fundo do poço e que, nas próximas eleições, deverá haver uma revitalização política, mas que os candidatos não terão o apoio inflamado dos eleitores em suas campanhas.

¿ A sociedade está perdendo a inocência, as ilusões. Já não acredita mais em políticos salvadores da pátria e vai reagir de forma revitalizadora ¿ disse.

Já o ex-ministro da Fazenda e deputado federal Delfim Netto argumentou que a recuperação da dignidade e auto-estima do brasileiro está condicionada à redução do desemprego. ¿ Todos nós concordamos com a reforma política. Mas o problema é que os cidadãos estão tão pobres que perderam as esperanças. A perda do emprego é o começo do abandono da dignidade ¿ disse.

O secretário Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, por sua vez, alertou que uma revolução dos movimentos sociais está em curso e que o próximo governo, seja ele de quem for, será enfraquecido pela pressão social. O presidente do Jornal do Brasil, Nelson Tanure, destacou que a iniciativa do seminário surgiu a partir da constatação de que o Brasil vive uma crise em torno de sua dignidade, em função das denúncias contra parlamentares e o poder Executivo.

Participaram também do seminário o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luiz Fux, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, o presidente da Fecomércio, Orlando Diniz, o presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, o ex-presidente do Tribunal de Contas da União, Humberto Souto, e os acadêmicos Dalmo Dallari e Celso Antônio Bandeira de Mello.