Título: Sharon muda mapa político
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, Internacional, p. A8

Em uma manobra política para liderar um novo partido de centro nas eleições do ano que vem, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, anunciou oficialmente ontem sua saída do Partido Likud. A decisão, tomada no domingo à noite, promete esquentar o poder israelense pelos próximos anos, afirmam analistas, pois converterá o mapa político israelense, tradicionalmente bipartidarista, num triângulo: o novo partido do premier, de centro-direita; o Likud, a direita nacionalista; e os trabalhistas, de centro-esquerda.

Assim, Sharon ficaria livre das regras da extrema-direita no que diz respeito a processos de paz com os palestinos.

O anúncio foi feito horas depois que o premier entregou ao presidente, Moshe Katsav, uma carta pedindo que dissolvesse o Parlamento e convocasse eleições antecipadas, que devem ocorrer até 28 de março. Também no comunicado à direção do Likud - legenda que co-fundou e dirigiu durante os últimos seis anos -, Sharon foi direto: ''Estou renunciando ao partido para formar um novo''.

No domingo, o Partido Trabalhista abandonou a coalizão oficialista, após 10 meses de convivência, por iniciativa de seu novo presidente, Amir Peretz. A derrota fez o governo perder maioria no Knesset.

- Em sua forma atual, o Parlamento não permite o correto funcionamento do governo - explicou Katsav, antes de a Câmara aprovar a dissolução.

- Permanecer no Likud significa perder tempo em conflitos políticos em lugar de atividades pelo bem do Estado - defendeu, por sua vez, Sharon.

Segundo a Rádio Pública, o novo partido se chamará ''Responsabilidade Nacional'' e contará com personalidades como os professores Avishai Braverman e Uriel Reichman, o ex-chefe dos serviços de segurança (Shin Beth), Avi Dichter, e o general da reserva Gaby Ashkenazi. Seis ministros e dirigentes do Likud também já anunciaram que abandonarão a direção do partido.

No entanto, a imprensa local acredita que o sucesso do general de 77 anos com uma nova legenda é incerto e que ele pode enfrentar uma dura batalha com facções políticas mais bem estabelecidas, em uma eleição que está prestes a acontecer.

- Vamos encontrar um jeito de nos unir e reagrupar nossas forças - disse o presidente em exercício do Likud, Tzachi Hanegbi. O ex-premier Benjamin Netanyahu é o candidato mais cotado à liderança.

De fato, afirma o analista político Gerald Steinberg, quem está em uma posição mais forte agora é Sharon, ''pois é o único líder com credibilidade em âmbito nacional''.

- Por outro lado, este é um território político novo e o esquema de três partidos grandes não funcionou bem no passado.