Título: Espaço para corte maior no juro
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, Economia & Negócios, p. A17

O Banco Central poderia baixar os juros mais rapidamente e reduzi-los, por exemplo, em 0,75 ponto percentual amanhã. A maioria dos analistas diz acreditar haver espaço para a aceleração no corte de juros, mas considera muito improvável que o BC decida fazê-lo. A reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) acontece hoje e amanhã. Atualmente, a Selic está em 19% ao ano.

Como dizem os economistas, há ''condições técnicas'' para maior agressividade no processo de queda de juros, mas o BC já deixou claro que reduzirá a taxa de forma gradual. As condições técnicas: câmbio valorizado, o nível de atividade fraco e a inexistência de sinais sobre problemas com a inflação. Mesmo com o repique visto em alguns índices, a avaliação é que ele se deve a pressões passageiras, que não contaminarão os preços daqui para a frente.

- Um país que tem economia se desacelerando e o real se valorizando pode acelerar a redução dos juros. São condições técnicas muito claras. Com essa queda de taxa de atividade econômica e com câmbio, a maioria dos BCs do mundo aceleraria a queda. E eu estou com a maioria - diz Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC e sócio da AC Pastore e Associados.

Gustavo Loyola, também ex-presidente do BC e sócio da Tendências, prevê uma queda de 0,5 ponto nos juros, mas, como parte importante dos analistas, diz que o BC poderia reduzi-los um pouco mais. No entanto, diz ele, os sinais emitidos pela autoridade monetária têm sido de redução gradual da taxa básica.

- O próprio perfil da atual diretoria é conservador. As últimas duas altas podem ter sido desnecessárias - diz ele.

Já Luis Roberto Troster, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), apóia o gradualismo do BC. Diz, por exemplo, que o ruído causado pela turbulência política recomenda cautela. Apesar do cenário favorável para corte de juros, ele avalia que um corte de 0,5 ponto percentual está de bom tamanho. Troster critica a ''miopia de alguns setores da economia'', que pedem cortes mais agressivos na taxa de juros. Mário Mesquita, do ABN Amro, também espera queda de 0,5 ponto amanhã. Diz que é natural o BC ter cautela.

- O BC é sempre uma instituição mais conservadora do que o resto da sociedade. A partir de dezembro, os juros devem começar a cair de forma mais rápida, até 0,75 ponto - diz.

Pastore, Mesquita, Loyola e Troster participaram ontem, em São Paulo, do seminário na Febraban sobre a Economia, no qual também esteve o presidente do BC, Henrique Meirelles.

Segundo a pesquisa Focus, feita com analistas de mercado e divulgada semanalmente pelo Banco Central, o mercado manteve aposta de que o Copom irá reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual em novembro, passando de 19% ao ano para 18,50%. Para dezembro também é esperado corte de 0,50 ponto percentual, ficando a taxa de juros em 18% ao ano. A expectativa para a Selic ao final de 2006 foi reduzida em 0,25 ponto percentual, passando de 15,75% ao ano para 15,50%. A expectativa de inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, do IBGE, que baliza as metas oficiais de inflação do governo) passou de 5,52% para 5,53%. Esta é a terceira semana consecutiva de alta. No entanto, o prognóstico para o final de 2006 foi reduzido de 4,60% para 4,55%.