Título: Poluição sonora aflige moradores da Zona Sul
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2005, Rio, p. A15

se não bastasse conviver com a desordem urbana - população de rua, camelôs, expansão de favelas - e os altos valores do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), moradores e comerciantes da Zona Sul são obrigados a enfrentar mais um sofrimento: a poluição sonora. Trânsito urbano, a coleta de lixo em horário noturno, alarmes de garagens, propagandas sonoras feitas em veículos e o falatório em bares e restaurantes são apontados por especialistas como os principais vilões para quem busca desfrutar do silêncio. - Além de incomodar, a exposição ao ruído por muito tempo pode causar surdez temporária ou lesão irreversível - avisa o Ronaldo Arino, médico do trabalho.

Com base na norma regulamentadora do Ministério do Trabalho, o especialista lembra que o limite tolerável ao ouvido humano é de 85 decibéis por um período de oito horas. Quem está exposto a 90 decibéis deve permanecer, no máximo, por quatro horas no ambiente. Arino percorreu com o JB algumas ruas da Zona Sul e constatou o quanto a região da cidade é barulhenta.

Na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com Rua Santa Clara, em Copacabana, o decibelímetro disparou ao se aproximar de uma obra para a instalação de fibras ópticas: 105 decibéis, mesmo índice constatado no Túnel Novo. O barulho ensurdecedor obriga a comerciante Euricina Cavalcanti, 51, a gritar com seus clientes para vender as mercadorias. Euricina revelou que nunca fez exame audiométrico, mas garante escutar bem, embora constate que adora falar alto.

- Uma pessoa pode conviver com uma lesão auditiva por até dez anos ou mais sem perceber - explica Arino.

De acordo com o médico, irritabilidade, fadiga, insônia, perda de apetite, estresse e hipertensão arterial são alguns dos sintomas que ajudam no diagnóstico precoce da perda de audição. Ao ser informado sobre os sintomas, o vendedor Denilson Cabral, 28, afirma que é um sério candidato a engrossar a fila de quem já perdeu parte da sensibilidade. Natural de Miracema, ele só consegue repousar quando volta à cidade natal. Na Rua Santa Clara, onde mora, Cabral diz que os sons do bairro causam irritação.

- Copa é muito barulhenta, insuportável - opina.

Para o deputado estadual Carlos Minc (PT), a situação já foi bem pior. Autor da Lei do Silêncio, que entrou em vigor há 18 meses, o parlamentar mostra-se satisfeito com algumas conquistas, como a redução do número de sinaleiras que emitem som, a instalação de isolamentos acústicos no Bar Belmonte, em Copacabana, e na Igreja Universal do Reino de Deus, em Jacarepaguá.

- Foi preciso muita conversar para convencer o pessoal. Em Copa, o dono do bar ainda pagou a duplicação do vidro das janelas do primeiro andar do prédio - recorda-se.

O presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), George Eduardo Masset, confirma a informação do deputado. No último ano, de 18% a 20% das sinaleiras tiveram o som desligado pelos síndicos. Ele acredita que o índice chegue a 40% nos próximos seis meses. Há um ano, uma cartilha orienta os condôminos sobre as sinaleiras.

- Alguns lugares, próximos a escolas e galerias comerciais, por exemplo, precisam do som para avisar as pessoas sobre a saída dos veículos, mas em outros o instrumento é desnecessário - explica.

Segundo o disque-barulho (2503-2795) da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, os templos religiosos, bares e academias de ginástica lideram o ranking de reclamações de moradores contra o barulho.