Título: Dirceu fica de fora de relatório preliminar da CPI
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2005, País, p. A5

BRASÍLIA - A defesa do deputado José Dirceu (PT-SP) não precisará se valer, desta vez, de questionamentos regimentais ou manobras jurídicas. A própria CPI dos Correios, uma das fornecedoras das informações que rechearam o relatório do pedido de cassação do ex-ministro da Casa Civil, divulgou na quinta-feira relatório parcial que não o cita como um dos mentores do suposto esquema do mensalão e do caixa 2 dos partidos governistas. O parecer é da sub-relatoria de movimentações financeiras da CPI, ocupada pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). O documento acusa apenas o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e Marcos Valério de serem os principais responsáveis pelos esquemas.

- O conjunto de elementos coletados é suficiente para discernir as peças centrais do quebra-cabeças que se arma: os senhores Delúbio Soares e Marcos Valério Fernandes de Souza - afirma o relatório.

Em outro trecho, o texto aponta Valério e Delúbio como os idealizadores do esquema de repasse de dinheiro ao PT e parlamentares da base aliada ao governo.

O relatório parcial de Fruet ressalva que Valério e Delúbio agiram com o auxílio de ''diversas outras pessoas e autoridades federais''. Cita, porém, apenas funcionários do Banco Central, onde Valério representava interesses do Banco Rural a respeito da liquidação extrajudicial dos bancos Mercantil de Pernambuco e Econômico. O documento prévio da CPI dos Correios destaca ainda que coube a Delúbio Soares a aproximação de Valério aos ''círculos centrais da administração federal''. Mas, não aponta quais seriam os interlocutores da dupla:

- Efetivamente, foi sua atuação (a de Delúbio) que garantiu a Valério o livre trânsito entre o governo e as instituições bancárias utilizadas como fachada na operação.

Procurado pela reportagem, o deputado Dirceu informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentará o assunto. Já o seu advogado, José Luis Oliveira Lima, afirmou que as informações contidas do relatório parcial não o surpreendem.

- Sei que Dirceu não foi o mentor do suposto esquema.

Oliveira Lima disse também que, caso os recursos encaminhados por ele ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pedem o cancelamento do processo não sejam aceitos, tais informações podem ser levadas ao plenário da Câmara na defesa de Dirceu:

- É mais um argumento.

Fruet afirmou que o relatório parcial não teve o objetivo de prejudicar ou favorecer Dirceu ou qualquer outro parlamentar apontado anteriormente pela CPI como envolvido nos esquemas. Segundo ele, por enquanto foram pedidos apenas os indiciamentos de Valério e Delúbio porque eles são réus confessos.

- No relatório eu não estou dizendo que ele não participou. E não é só nisso que se baseia a representação contra o deputado José Dirceu no Conselho de Ética. Esse relatório é só um capítulo das investigações - afirmou o sub-relator da comissão.

Fruet, entretando, admite que o relatório parcial divulgado na última quinta-feira pode ser usado politicamente por Dirceu em sua defesa:

- É inevitável.

O relator do processo contra Dirceu no Conselho de Ética, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), concordou que Dirceu pode alegar que o novo relatório da CPI dos Correios não o considerou idealizador ou operador do esquema de mensalão e caixa 2. No entanto, o parlamentar argumentou que em seu relatório, aprovado por 13 votos a um no Conselho e que pede a cassação do ex-ministro, fica explícito o papel central que Dirceu exerceu no Executivo.

- Quem articulava pelo governo não era Delúbio nem Valério - disse Delgado