Título: Pretto: movimentos sociais sem estímulo
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2005, País, p. A5
BRASÍLIA - Um dos fundadores do PT e do Movimento Sem Terra (MST), o deputado Adão Pretto (PT-RS) cobrou há um mês do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a assinatura do decreto que atualiza os índices de produtividade rural, que amplia o número de fazendas para a reforma agrária.
- Como é que nessa conjuntura eu vou assinar isso aí? - questionou Lula.
Os movimentos sociais, historicamente ligados ao PT, se dizem frustrados e desistimulados com o governo Lula.
- Os movimentos estão em descenso - lamenta Pretto.
Para o deputado, o descenso - que significa declínio, decadência - é consequência direta da ''falta de vitórias'' no campo, o que desestimula os acampados e assentados da reforma agrária. O decreto que torna mais rígidos os índices de produtividade era uma das promessas de Lula aos sem-terra.
Um exemplo do descenso apontado pelo deputado, manifestou-se em Brasília na semana passada, durante a visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Enquanto mais de 10 mil pessoas protestavam contra Bush na Argentina, em Brasília o número de manifestantes dos movimentos sociais e sindicais foi menor do que o esperado.
Adão Pretto acha que a visita de Bush foi anunciada em cima da hora e faltou tempo para mobilizar os movimentos sociais. Para o parlamentar, há outros motivos para o ''descenso'' que atinge os movimentos. Ele acha que o MST ficou na retaguarda depois que a CPI da Terra divulgou auditorias com irregularidades em convênios de entidades ligadas aos sem-terra.
- Os movimentos ficam na defensiva. O objetivo da CPI da Terra era o de amedrontar. Os movimentos ficam pisando em ovos - admite Pretto.
Crítico da atual administração, o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungman (PPS-PE), acha que a autonomia dos movimentos sociais foi ''cooptada'' pelo governo Lula. Para Jungman, os movimentos foram ''domesticados'' pela concessão de postos de trabalho na administração pública, pelos repasses financeiros em convênios e pela entrega de cestas básicas nos acampamentos. Para Jungmann, os movimentos sindicais também se renderam ao recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
- Os movimentos sociais vão pagar por este alinhamento com o PT. Eles vão pagar com uma crise de perda de credibilidade - analisa RaulJungman.
O ex-ministro acredita que a paralisia dos movimentos sociais demonstra que no governo Fernando Henrique Cardoso a luta era ''eminentemente política'', em ''sintonia'' com o PT. O deputado Adão Pretto não tem a opinião de Jungman, diz que esperava maior velocidade para a reforma agrária, mas acha que há uma diferença entre Fernando Henrique e Lula.
- Ter um governo como parceiro, mais amigo, é melhor para a luta avançar - afirma.
Também ligado a movimentos sociais, o deputado Chico Alencar (P-SOL-RJ) diz que Lula é um ''desestabilizador'' das linhas de pensamento de esquerda no Brasil. Para o deputado, Lula provocou uma ''reversão de expectativas'' na sociedade brasileira.
- O Lula gerou o maior produto interno de desencanto de todos os tempos. Isso levou à perplexidade, à dúvida - diz Chico Alencar.
O parlamentar acrescenta que outro motivo para a ''inibição'' dos movimentos sociais na atual conjuntura são os projetos de cooperação financiados pelo governo. Para Chico, ONGs e movimentos se beneficiam desse dinheiro oficial. O diálogo entre governo e movimentos, para o deputado, é também um dos motivos para esta inibição. Na visão de Chico, o governo Lula provoca uma ''despolitização'' na vida nacional, causando uma ''debilidade'' nas manifestações.
- É deprimente. Quando você tinha a expectativa de viver a plenificação da República, você vê é o crescimento da desmobilização, da apatia, da despolitização, logo no governo Lula. Isso é paradoxal demais - lamenta.
Parlamentares mais ligados aos movimentos sociais consideram grave que os temas prioritários ficaram em segundo plano com a crise política que atinge o governo. Além da falta de uma legislação para tornar a reforma agrária mais ágil, Adão Pretto reclama que os fazendeiros estão se unindo para impedir as desapropriações.
- Os vizinhos dos fazendeiros emprestam bois para o outro povoar o campo quando o governo vai fazer a vistoria sobre produtividade - diz o deputado Adão Pretto.