Título: Debandada em busca do mandato
Autor: Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2005, País, p. A8

No governo do Rio, 13 secretários vão deixar os cargos para disputar vagas na Assembléia Legislativa e na Câmara

A governadora Rosinha Garotinho está em xeque diante de um tabuleiro de xadrez político. Dos 31 secretários do estado, nada menos que 13 são pré-candidatos nas eleições do ano que vem, inclusive a peça mais importante do jogo, Anthony Garotinho, que ocupa a pasta de Governo. Os outros disputam vagas na Assembléia Legislativa ou na Câmara. O índice de 42% é o maior em pelo menos uma década e já está causando reflexos na atividade do governo. Tudo porque os secretários - candidatos tentam associar seus nomes a programas estaduais que atinjam boa parcela da população, além de brigar por aparições na mídia e procurar atrair cabos eleitorais de outras pastas. Sem falar na maior rivalidade de todas, o voto.

- Cada um quer invadir o feudo de outro. Se continuar assim, o governo não anda - prevê um secretário de Rosinha. A governadora e Garotinho já perceberam as implicações dessa concorrência interna. Durante reunião do secretariado no Quartel General da Polícia Militar, dia 20 do mês passado, Garotinho elevou o tom para reclamar da atitude dos pré-candidatos. Ele disse, segundo participantes do encontro, que a administração estadual não pertencia a ninguém, os programas das secretarias eram do governo e não dos secretários e a atitude de alguns não condizia com a liturgia do cargo.

- A disputa por espaço é até natural entre candidatos - admite Hugo Leal, ex-presidente do Detran, deputado estadual licenciado, secretário de Justiça e pré-candidato a deputado federal pelo PSC.

Mas para evitar essa ''naturalidade'', a solução encontrada pelo casal foi estipular a data de 31 de dezembro para que todos entreguem seus cargos. Até Garotinho ficou sujeito à determinação. Ele disse publicamente que desejava sair em novembro para cuidar de sua campanha a Presidente da República. Garotinho cismou que vai percorrer o Brasil e ter reuniões com os 24 mil delegados do partido espalhados pelo país. Até o fim do ano, contudo, terá de dividir as responsabilidades da Secretaria de Governo.

- Não liberei o Garotinho para sair em novembro. Ele vai sair junto com os secretários dia 31 de dezembro. Dei esse prazo para evitar a disputa de espaço entre os secretários-candidatos. Não quero que o governo seja acusado de uso da máquina pública - disse uma Rosinha escaldada por denúncias desse tipo em Campos, o que custou a ela e ao marido condenação na Justiça daquela cidade. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ficou até a madrugada de sexta-feira julgando se o casal, além do candidato a prefeito de Campos apoiado por eles, Geraldo Pudim, deveria ter os direitos políticos cassados.

O TRE entendeu, com o voto de minerva de seu presidente, Marlan Marinho, manter o direito de os dois concorrerem a cargos eletivos. Entre os aliados de Garotinho, a decisão serviu como um reforço à sua candidatura. Horas depois, o ex-governador partiu rumo a Goiânia e à pré-candidatura a presidente. A solução de estipular prazo para a saída dos titulares das pastas vai, no entanto, criar problemas. A chefe do governo diz ainda não saber quais serão os novos ocupantes das vagas que ficarão livres no fim do ano.

- Ainda está cedo para definir as substituições - acrescenta Rosinha. A governadora tem diante de si duas opções. A primeira é nomear subsecretários - os que também não forem candidatos -, dando ao governo um viés técnico, o que poderia alavancar projetos já em andamento. A segunda, e que vai pesar na decisão por ser um ano eleitoral, é a possibilidade de rearrumar politicamente o governo, dando mais espaço para alianças políticas de olho nas composições para 2006. Esta última opção tem contrapeso.

Os secretários demissionários não gostariam de perder a influência nas pastas para outros grupos políticos. Mantendo controle sobre as secretarias, as ações setoriais do governo poderiam muito bem cair como uma luva nas plataformas de campanha de cada um.

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