Título: Julgamento adiado alegra Dirceu
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2005, País, p. A5

O deputado José Dirceu (PT-SP) ganhou mais uma semana para defender seu mandato. Ontem, com a aprovação do parecer do deputado Sérgio Miranda (PDT-MG) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 34 votos a 15, o prazo regimental para votação do pedido de cassação do petista foi ampliado em duas sessões. Diante disso, a Mesa da Câmara resolveu marcar a votação - que deveria acontecer hoje - para o dia 30. O relator do processo contra Dirceu no Conselho de Ética, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), chegou a colher 67 assinaturas para tentar quebrar o prazo regimental e garantir que a votação acontecesse hoje. Mas, foi frustrado com a demora da sessão de votação do relatório de Miranda na CCJ. Segundo o regimento, a comissão teria de enviar à Mesa Diretora o resultado final da votação até 14h, para que pudesse fazer parte do expediente de ontem. E assim, Delgado poderia apresentar requerimento de extinção do prazo regimental. Caso fosse aprovado, garantiria a permanência do julgamento de Dirceu na pauta de hoje.

- Por uma questão de 15 minutos, perdemos a oportunidade de mostrar para a sociedade quem realmente está interessado em assumir a cassação de Zé Dirceu. Porque a quebra de interstício (o prazo de duas sessões) é votação nominal e só assim veríamos os interesses de cada um - avaliou Delgado.

A decisão de aprovar o relatório de Miranda foi tomada durante acalorada discussão na CCJ. O pedido da defesa, de que o conselho não garantiu o direito a ampla defesa, foi rejeitado por quase todos os membros. No entanto, o que rendeu bate-boca de quase três horas foi a questão regimental levantada no relatório sobre a concessão de mais duas sessões para publicação e leitura do processo de cassação antes do julgamento final. Só os deputados Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) e Inaldo Leitão (PL-PB) gastaram 56 minutos para defender seus posicionamentos.

- Está muito claro que houve procrastinação por parte dos defensores de Dirceu - disse Delgado.

Apenas a bancada do PFL votou contra o relatório de Miranda. Líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP) disse que o partido aprovou o texto orientado por um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

- Fizemos isto para evitar futura contestação judicial. Um ministro do STF garantiu que era perigoso contestar os prazos regimentais neste momento. É uma decisão responsável - afirmou.

José Dirceu ficou otimista com o resultado na CCJ. Acredita que a decisão mostra um ''quadro político favorável'' e que está certo de que o Supremo vai se posicionar a favor do seu recurso.

- Estou sereno, tranqüilo. Já dei provas suficientes ao país de que não temo ser investigado. Eu não temo nada. Não peço nem clemência nem misericórdia, eu quero um julgamento justo. Acredito que tenho chances reais no Supremo - disse Dirceu.