Título: Governo almeja retomar relações internacionais
Autor: Paula Barcellos
Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2005, Internacional, p. A13
Como ex-banqueira e ex-funcionária da Organização das Nações Unidas (ONU), Ellen Johnson-Sirleaf é vista, especialmente na Libéria, com bons olhos pela classe empresarial - ou pelo menos do que sobrou dela. Afinal, desde a tomada do poder do ditador Charles Taylor em 1989, os investidores migraram para outros países. Não necessariamente os vizinhos africanos. Na verdade, raros permaneceram no continente; a maioria foi para Europa. Como se dizia durante o governo Taylor, ''o único vizinho com quem ele mantém boas relações é o Oceano Atlântico''.
Dentro dessa perspectiva das relações diplomáticas e comerciais da Libéria, a vitória de Ellen, para o pesquisador Alexandre dos Santos, pode implicar um grande avanço:
- A África Ocidental é uma região muito instável. Qualquer conflito em um país transborda em outro. Para a região, é a chance de estabilizar o país.
Estabilidade adiada desde o golpe de estado de Taylor, que instalou uma guerra civil e praticamente exterminou as relações com os Estados Unidos e a União Européia.
- Hoje a Libéria basicamente não tem acordos comerciais com ninguém, apesar de ser exportadora de diamante, ouro, café, minério e produtos agrícolas - conta Santos, lembrando que, apesar de a ONU ter proibido a venda livre de diamantes, há muito contrabando no país, com a finalidade, inclusive, de subsidiar a compra de armas para guerrilheiros locais e internacionais.
Em sua campanha eleitoral, Ellen fez questão de ressaltar a necessidade de reatar os nós no país e sua reinserção no mercado internacional. Tendo ao seu lado a classe mais abastada da Libéria, diferentemente de seu opositor George Weah, talvez ela consiga, de acordo com os especialistas, de fato trazer de volta o mercado perdido.
- Ellen é uma ativista, que nunca teve seu nome ligado a esquemas de corrupção. Por ter sido criada nos Estados Unidos, talvez propicie uma maior aproximação nas relações diplomáticas - acredita o professor Livio Sansone, da Universidade Federal da Bahia.