Título: Fim das dívidas com o 13º salário
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2005, Brasília, p. D3
Fim de ano é sinônimo de festas, presente de natal, e 13º salário. Com o salário extra nas mãos e vitrines decoradas nos shoppings, a vontade da operadora de telemarketing Maísa Eiras, 34 anos, é comprar presentes de natal para a família inteira. Apesar de ser grande a tentação, o abono de natal que Maísa receberá no próximo mês deve ser usado para outros fins: quitar dívidas. - Tenho cerca de R$ 300 em dívidas com faturas de cartão de crédito que quero quitar, para entrar 2006 sem nenhuma pendência. Além disso, quero pagar adiantado quatro prestações de R$ 150 de eletrodomésticos, para evitar cair nos juros depois - afirma.
Mesmo sem saber, Maísa segue a risca as recomendações dos economistas de como gastar o dinheiro do 13º. Para o professor de macroeconomia e economia do trabalho da Universidade de Brasília Carlos Alberto Ramos, antes de pensar em qualquer compra é preciso pagar todas as contas. A ordem é fugir dos juros a qualquer preço.
- Com a alta taxa de juros brasileira, o mais racional é abater parte da dívida assim que entrar um dinheiro extra - afirma.
Segundo o professor, quem está muito endividado deve priorizar as contas do cheque especial e do cartão de credito.
- Deve-se pagar primeiro as dívidas que têm juros maiores, que geralmente são essas. Quitado o cheque especial, deve-se aprender que esse crédito só pode ser usado em caso de doença na família, ou então entra-se em um círculo vicioso do qual é difícil sair - acredita.
A taxa de juro cobrada pelas operadoras de cartão de crédito são, em média, de 10%. O Procon de São Paulo anunciou ontem que a taxa do cheque especial caiu 0,01% em outubro, passando de uma média de 8,32% em setembro para 8,31% no mês passado.
Poupança Para o economista, quem não precisa pagar dívidas mas planeja adquirir um bem que precisa de financiamento deve colocar o 13º na poupança.
- O consumidor pode utilizar o 13º como início de uma poupança para comprar um bem durável, como um carro ou uma geladeira, fugindo assim de crediários e financiamentos. Ás vezes, um bem que você demoraria 10 meses para pagar à prestação pode ser comprado com três meses de economia, sem os juros - afirma.
Crediário, aliás, figura lado a lado de juros no dicionário de palavras proibidas ao consumidor.
- As pessoas quando vão comprar no crediário não atentam para a taxa de juros, só querem saber se a prestação cabe em seu orçamento. Muitas vezes acabam pagando três vezes o valor do produto. É preciso primeiro perguntar ao vendedor qual é a taxa de juros, e pensar em outras alternativas ao crediário para adquirir o produto - recomenda.
Nem mesmo a tendência de queda da taxa Selic, verificada pelos especialistas, seria motivo de apostar no crediário. Para Ramos, eventuais quedas na taxa não alcançariam as compras de natal.
- A taxa tende a cair, mas irá continuar alta. Até que a queda chegue à ponta da cadeia, ao consumidor, vai demorar muito. É ilusão ver a diminuição da taxa na televisão e correr para o crediário - acredita.
Juro menor - Uma das soluções para escapar do crediário pode ser o crédito consignado, que é descontado na folha de pagamento. Segundo o professor, enquanto os juros dos financiamentos das lojas giram em torno dos 10%, os do crédito consignado não passam dos 2%.
- Se é inevitável entrar em um financiamento para comprar um produto, deve-se procurar o crédito que apresenta menor taxa de juros. Um dos mais baratos do mercado é, sem dúvida, o consignado. Além disso, com o dinheiro na mão, o consumidor pode negociar e conseguir menores preços - ensina.
Investimentos - Quem não tem que se preocupar com as dívidas, deve poupar o dinheiro do 13º. Para Ramos, o melhor investimento ainda é a poupança, principalmente para quem não entende nada de mercado financeiro.
- O investimento depende do risco que cada pessoa esteja disposta a correr. No mercado financeiro, pode se ter um ganho muito alto, mas uma perda muito grande também. Só quem deve arriscar são pessoas que têm conhecimento do mercado financeiro, não se deve começar a brincar com o dinheiro do 13º - afirma.
O economista alerta ainda que os futuros investidores despreparados não devem procurar corretoras.
- Para investir através de uma corretora, é preciso que o lucro das ações seja muito grande para compensar a comissão do corretor. Para quem não quer arriscar ficar sem seu dinheiro, o mais lógico é investir na poupança mesmo - acredita.