Título: Palocci estuda sair de cena
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 14/11/2005, País, p. A3
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha reafirmado durante o fim de semana a permanência do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a CPI dos Bingos e a dos Correios prometem não dar sossego ao responsável pela área econômica do governo nos próximos dias. Sob fogo cruzado, o ministro avalia apresentar uma licença de oito dias a fim de se afastar do epicentro da crise até o dia 22, quando, em sessão marcada para o plenário do Senado, prestará esclarecimentos à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Seguindo o conselho do presidente Lula para que ''esfriasse a cabeça'', Palocci, que teria pedido para deixar o cargo em três ocasiões desde quarta-feira, aproveitaria o período para se preparar com mais tranquilidade para o depoimento.
A CPI dos Bingos irá rastrear durante a semana os investimentos feitos com apoio do governo brasileiro em Angola. Em depoimento ao Ministério Público, o ex-assessor de Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, o advogado Rogério Buratti afirmou que o empreiteiro José Roberto Colnaghi conseguiu fechar negócios em Angola com a ajuda do ministro da Fazenda. O depoimento foi revelado pela revista IstoÉ Dinheiro deste fim de semana. Colnaghi é quem teria emprestado seu avião para o suposto transporte de dólares de Cuba para a campanha do presidente Lula. A Veja diz ainda que Palocci teria intermediado uma doação de R$ 1 milhão de empresários angolanos ligados aos bingos.
A CPI dos Correios também pode chegar a Palocci pela via transversa. A partir dessa semana a CPI irá investigar as 21 remessas do Trade Link Bank, off-shore sediada nas Ilhas Cayman, para o ministro das Finanças de Angola, José Pedro de Morais Júnior, e para o presidente do Banco Nacional, Amadeu de Jesus Castelhano Maurício. De acordo com reportagem do O Globo deste fim de semana, no total foram remetidos para contas das duas autoridades cerca de US$ 2,7 milhões. O Trade Link Bank, ligado ao Banco Rural, está no palco das investigações sobre o mensalão. Existe a possibilidade de haver uma conexão entre os dois casos angolanos.
- Vamos investigar. Se o Palocci vai ficar ou não é problema do presidente Lula. Mas ele não está imune à aplicação da lei. Os episódios envolvendo o ministro serão investigados como todos os outros - afirmou ontem o sub-relator da CPI dos Correios, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
Em princípio, Palocci utilizaria apenas o feriado prolongado - até terça-feira - como forma de refletir sobre a conveniência de permanecer no governo debaixo de tiroteio. Mas existe uma pressão de setores do governo para que o ministro apresente uma licença informal até a data do depoimento no plenário do Senado. De acordo com um auxiliar do presidente Lula, o período ocioso seria uma maneira de ''testar'' o ímpeto da oposição em tirá-lo do cargo.
Apesar de darem como superada a crise política envolvendo Palocci, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Planalto a avaliação é de que o ministro está vulnerável e pode não aguentar a artilharia pesada por muito tempo.
Diante desse cenário, conforme antecipou o Jornal do Brasil no último sábado, o presidente Lula e ministros do núcleo político do governo , inclusive, já ensaiam pelo menos duas alternativas, caso a situação de Palocci se torne insustentável. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, um nome mais palatável ao mercado e que representaria a manutenção dos fundamentos da economia ou o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que inauguraria uma nova fase do governo, mais desenvolvimentista e menos atrelada à austeridade fiscal , voltada sobretudo para o crescimento econômico. Com Ciro na Fazenda, argumentam os partidários da idéia, Lula o teria como carta na manga para as eleições de 2006 num cenário em que o agravamento da crise o forçaria a desistir de concorrer.
Outro nome que surgiu nos corredores do Planalto nos últimos dias foi o do líder do governo no Senado, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Mercadante entraria sob o compromisso de manter a política econômica. Pesa contra o seu nome, no entanto, o fato de ele ser o principal candidato do PT ao governo de São Paulo, o que o obrigaria a deixar a Fazenda em abril do próximo ano.