Título: Dólar no túnel do tempo
Autor: Aluísio Alves e Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 14/11/2005, Economia & Negócios, p. A18

O ciclo de valorização do real já coloca a cotação do dólar no menor patamar desde 2001 em termos nominais mas, trazendo-se a valores reais, a moeda americana chegou a um piso que não era verificado desde 1998, antes da maxidesvalorização cambial. Corrigida pelo índice oficial de inflação, o IPCA, a cotação registrada ao fim de dezembro de 1998 (um dólar igual a R$ 1,21) transforma-se em um dólar igual a R$ 2,09. Ficaria, assim, pouco abaixo do valor do fechamento na última sexta-feira: R$ 2,164. Isto significa que o real voltou ao patamar pré-crise de janeiro de 1999.

Foi a partir dali que o governo, forçado pela desvalorização provocada pelo mercado, adotou o câmbio flutuante e, em conseqüência, viu o dólar chegar perto dos R$ 1,98 no fim daquele mês.

Na última sexta-feira, a moeda completou dez quedas diárias consecutivas, recuando 0,14%. Nem as últimas intervenções do Banco Central, que entrou comprando a moeda, frearam a desvalorização. A desvalorização frente ao real soma 18,3% no ano.

Já se a correção se fizer a partir da cotação do dólar em 31 de janeiro de 1999, o valor equivaleria hoje a R$ 3,41. No mercado financeiro, economistas acreditam que a tendência permanece. Na pesquisa semanal do Banco Central, que será divulgada hoje, as instituições financeiras devem rever para baixo a estimativa média para a cotação do dólar no final de 2005. Na semana passada, a previsão era de R$ 2,28.

- Nossa previsão mudou de R$ 2,35 para R$ 2,25, conta a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi.

A tendência só mudará se o BC recorrer a medidas adicionais, uma vez que as compras diárias da moeda, estimadas em cerca de US$ 3 bilhões pelo mercado, mostraram-se infrutíferas.

Uma delas pode ter vindo na sexta-feira passada, com o anúncio de que os leilões de swap cambial reverso - em que o BC vende taxas de juros em troca de cotação da moeda no mercado futuro - deixaram de ser semanais e passarão a ser diários, dependendo das condições de mercado.

A outra, segundo economistas, pode ser intensificar o ritmo de queda da taxa básica de juros. A estimativa dominante ainda é de que, na reunião da semana que vem, o Copom opte por um corte de 0,50 ponto percentual.

- Mas a possibilidade de corte de 0,75 pontos é real - avalia o gestor da Daycoval Asset Management, Otto Bertani.

- Nós passamos a apostar nisso - emenda Sandra.

Na BM&F, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro de dezembro, que embute as projeções para o fim de novembro, caiu de 18,75% para 18,74%.

Pouco mais de um ano depois do dólar ter iniciado sua trajetória de queda frente ao real, o comércio exterior brasileiro parece começar a sentir os reflexos. A indicação foi incluída em um relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que considera que o quadro das exportações acusam o desestímulo do câmbio.

Apesar dos dados da balança comercial da última semana terem apontando forte crescimento das exportações, com recorde na média diária de embarques, outubro completou três meses em que o valor médio diário das exportações não sofre alteração significativa e há dois meses as importações acusam queda.