Título: A lista negra da CPI dos Correios
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2005, País, p. A3
Com os trabalhos prorrogados até ano que vem, a CPI dos Correios recomendará o indiciamento do deputado e ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-ministro Luiz Gushiken, atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos do governo. De acordo com importante integrante da comissão, a decisão será anunciada nos últimos relatórios. Ao deixar para a fase final dos trabalhos os pedidos de punição de Dirceu, Genoino e Gushiken, a CPI dos Correios pretende não conturbar ainda mais os processos de cassação de deputados em andamento, que contam com o respaldo de relatório preliminar conjunto das CPIs dos Correios e do Mensalão, extinta semana passada. Além disso, a comissão tenta reunir mais provas contra os investigados, a fim de apresentar uma ¿justificativa sólida¿, e resistente a eventuais recursos judiciais, para os indiciamentos.
¿ Estamos nos concentrando, por enquanto, na análise dos documentos e na tipificação das irregularidades. Depois, faremos a costura política necessária para o anúncio dos indiciamentos ¿ diz fonte graduada da CPI.
Para ele, a menção a Dirceu e Gushiken, ex-integrantes do núcleo duro do governo, como participantes de esquemas à margem da lei não comprometerá necessariamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
¿ Por enquanto, não há nada contra o presidente. Mas se houver batom na cueca, a coisa muda ¿ declara.
Dirceu será acusado pela CPI dos Correios de ser o mentor do esquema do mensalão, como já anunciado. O deputado nega a acusação e afirma que não há provas nem do pagamento periódico de mesada a parlamentares nem de sua participação no suposto esquema. Genoino será responsabilizado em razão dos empréstimos contratados por Marcos Valério Fernandes de Souza para o caixa 2 do PT.
Segundo relatório preliminar apresentado na semana passada pelo sub-relator de movimentações financeiras, Gustavo Fruet (PSDB-PR), tais empréstimos foram ¿operações forjadas para disfarçar transferências ilegais de recursos ao PT e outros partidos¿. Fruet recomendou o indiciamento apenas de Valério e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, apontados como operadores do mensalão, por lavagem de dinheiro, fraude contábil e tráfico de influência. ¿ Se colocando o Delúbio e o Valério já deu essa polêmica toda, imagine citando o Genoino ¿ afirmou Fruet, sinalizando que os responsáveis serão anunciados gradualmente.
O relatório dele pode ser votado esta semana. Petistas querem a inclusão de irregularidades cometidas na campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais em 1998. Semana passada, o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que está ¿bem próximo¿ de pedir o indiciamento de Gushiken. Ele mencionou o fato de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, ter dito que autorizou o pagamento antecipado de R$ 73,8 milhões à DNA Propaganda em cumprimento a ordem de Gushiken. Para a comissão, pelo menos R$ 10 milhões da bolada irrigaram o PT.
Gushiken afirmou que a CPI não tem amparo legal para pedir seu indiciamento, porque a Secretaria de Comunicação do Governo não teria controle sobre as campanhas publicitárias da Visanet, empresa pela qual o Banco do Brasil pagou à DNA. Gushiken ainda acusa Pizzolato de mentir.
¿ As coisas estão muito complicadas para o Gushiken ¿ afirma um dos integrantes da CPI, que ressalta, ainda que o ex-ministro está na alça de mira dos trabalhos da sub-relatoria dos fundos de pensão. Na iniciativa privada, as atenções estão voltadas para Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity. O indiciamento dele depende do resultado da perícia da Receita Federal em notas emitidas pela DNA para a Telemig Celular e a Amazônia Celular, controladas pelo Opportunity. O Fisco concluiu que parte das notas é fria.
Os próximos indiciados serão Pizzolato, ex-diretores de estatais como Correios, IRB e Eletronorte, além do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
¿ Tem tiro para tudo que é lado. Estamos trabalhando com cuidado, lastreados por auditorias, para garantir sólidas justificativas ¿ afirma integrante da CPI. (Colaboraram Fernando Exman e Hugo Marques)