Título: Isolamento protege Palocci
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/11/2005, País, p. A4
Protegido atrás das paredes de concreto do Ministério da Fazenda, o ministro Antonio Palocci parece invulnerável ao sopro das denúncias de irregularidades supostamente cometidas em sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto e às rusgas com a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Toda essa blindagem, segundo analistas, não se deve somente à estabilidade econômica, mas ao formato político do Estado, implementado na década de 90.
O pesquisador do Iuperj Renato Lessa explica que o modelo institucional brasileiro prevê a imunidade de determinadas áreas no Estado a disputas políticas. O Ministério da Fazenda é uma dessas áreas. O ''insulamento'' do ministério foi desenhado no governo Fernando Henrique Cardoso.
O tucano rompeu com o modelo político herdado do governo militar, inaugurando o formato neoliberal em detrimento do corporativismo das últimas três décadas. FH aperfeiçoou o formato de gestão em que o ministro atua como interlocutor do governo no mercado. Assim, após a nomeação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem mais total domínio sobre o destino de Palocci.
- É como se o Ministério da Fazenda fosse um Estado de exceção. Acredito que o presidente não vá derrubar o ministro. Ele não tem ninguém para colocar no lugar. O mercado é reconhecido como força que não pode ser contrariada. Ele só tiraria Palocci se quisesse redefinir a política econômica do país. Fora dessa perspectiva, essas movimentações do presidente parecem um blefe - analisou Renato Lessa.
Na história política brasileira, nem sempre o Ministério da Fazenda sofria desse ''esvaziamento'' político. Antes da Revolução de 30, o Brasil, segundo pesquisadores, apresentava modelo ''patrimonialista'' de gestão do Estado. Ou seja, o pasta da Fazenda mantinha estreita relação com a elite fundiária do país. Durante o governo Getúlio Vargas, esse modelo deu lugar à formação de burocracia estatal subordinada ao chefe de Estado.
A nova fase do Estado brasileiro transfere ao ministro da Fazenda autonomia para tomar decisões, embasado por conhecimentos técnicos. Essa autonomia é, em parte, a razão do choque com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Palocci é uma espécie de tesoureiro nacional. Assina os cheques para os ministros que vão de pires na mão até Dilma. Irritada com as constantes negativas do ministro, a chefe da Casa Civil passou a atacar suas diretrizes econômicas.
O cientista político Luiz Jorge Werneck Vianna ressalta que Palocci continua em sintonia com as regras do mercado, por isso, Lula teria dificuldades de sacrificá-lo sem argumento econômico:
- Foi no ministério que o PT e o PSDB se encontraram. Essa briga entre Casa Civil e Fazenda não é novidade. Durante o governo FH aconteceu a mesma coisa entre Pedro Malan e José Serra.